terça-feira, 17 de março de 2009

Entregar-se ao desejo é dar paz ao espírito


Apenas os fracos não aproveitam a oportunidade de viver a felicidade por medo de perderem a sua paz de espírito. Como se fosse possível o espírito ter paz em dias vazios...

"Ela olhava pela janela da sua sala e se incomodava com aquela aparente serenidade. Do alto do 6º andar, via um dia claro, entre nuvens. Nem frio, tão pouco calor. Um navio atravessava lentamente um mar de águas calmas. Tudo estava exatamente como deveria estar.

“Engraçado!” - ela pensou – “Sempre desejou dias como aquele, mas não imaginava que a sensação que fosse sentir era de ...”. Não sabia explicar. Nem queria. Apesar de tudo, tinha o medo guardado dentro de si.

Então, começou a reconstituir tudo o que vivera até ali. Como, de repente, poderia ter acabado em um dia tão sem-graça? Nem o trabalho a incomodara mais. Tinha o emprego que sempre desejou, estava inebriada de tanta satisfação que nem era capaz de reconhecê-la.

Foi aí que se lembrou da última vez que sentiu a sua face arder. Seria impossível que seus pensamentos tivessem se tornado reais. Seu olfato até poderia enganá-la fazendo-a sentir aquele cheiro que tantas vezes a levaram aos céus, mas não seus olhos, jamais mentiriam para ela. Sem dúvida nenhuma, era ele.

Com um leve sorriso perguntou o que fazia ali. Mas, não ouviu nada. Só conseguia prestar atenção nos desejos que incendiavam o seu corpo e perturbavam a alma. Jamais esqueceu aquele sorriso. Dentes alinhados, meio amarelados, circundados por uma boca carnuda e vermelha. Por diversas vezes, sonhou com o contorno de seus lábios deslizando por toda a extensão do seu corpo, enquanto suas mãos acompanhavam aquela deliciosa expedição.

Tentou mais uma vez falar, queria uma voz, qualquer coisa que acabasse com aquele silêncio sufocante, e por um momento esqueceu que era ela quem não podia ouvir. Estava mais uma vez enfeitiçada. Tentava esconder o rubor do seu rosto, mas era inevitável. Sentia-se nua, invadida, possuída. Sua voz, cada vez mais rouca, apenas sussurrava algumas palavras sem sentido. Deixou que as armas caíssem e se entregou àquele olhar. Resistir só a levaria de volta à sua velha rotina vazia.

Lentamente, ela se aproximou. Deixou que seu corpo encontrassem o dele enquanto fechava a porta, e antes que pudesse se afastar, sentiu o toque das mãos dele em suas costas. Subiam vagarosamente, mas com a força exata, que a fez arrepiar, e quando finalmente alcançou a sua nuca, agarrou seus cabelos virando o seu rosto em direção ao dele.

Suas bocas se encontraram. E com a mesma velocidade, perderam-se nos abraços, quentes, fortes, ardentes... Esqueceram-se de onde estavam, apenas queriam sentir o prazer de estarem, finalmente, juntos. Caíram no sofá, sem pensar nas consequencias. Antes mesmo que pudesse perceber, ele subiu o seu vestido e apertou com força entre as suas pernas. Ela quis gritar. Sempre fora apaixonada por ele, mas tinha medo de perdê-lo caso isso viesse a se tornar realidade. E ali, enquanto sentia seus beijos e sua respiração ofegante, o ouviu dizer: “eu quero você!”. Entregou-se por inteiro e chegaram juntos ao êxtase.

Sentia que agora sua vida estava perdida, louca, não haveria como retirar o que fora dito. Estava entregue a paixão por um homem e conhecia as consequencias: só poderia esperar os dias de angustia quando ele não aparecesse, as frustrações pelas ligações não recebidas, a raiva por ter sido esquecida, as lágrimas quando outra fosse encubida de lhe dar prazer... E, ainda assim, jamais tivera sido tão amada.

Mais uma vez, respirou fundo, olhou pela janela, fechou os olhos e, lentamente, os abriu. Mas, nada aconteceu. Estava tudo ali, exatamente como deveria estar."



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