segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Conto de Fadas da Vida Moderna



Assistindo a novela de Manuel Carlos, Viver a Vida, eu fico imaginando se é possível existir uma mulher com tanta sorte quanto a Helena. Mulher forte, segura, bem-sucedida, que se apaixona por um homem milionário, lindo, gentil, inteligente e, sem quaisquer dificuldades, ela o conquista, casa e vai passar a Lua de Mel em Paris.

É ou não é o Conto de Fadas da vida moderna?

Tudo tão simples que, sinceramente, me senti vivendo em um mundo paralelo. E vindo de mim, isso pode parecer um pouco cínico, afinal, eu sempre fui muito amada, sempre tive boa vida, conquistei uma carreira, tenho sim problemas como qualquer mortal, mas supero todos eles usando um salto 15cm, sorry. O que eu quero dizer é que se para mim aquele mundo encantado vivido por todas as "Helenas" de Manuel Carlos parece algo surreal, imagina para os mais de 170 milhões de brasileiros que vivem com um salário mínimo?

As verdadeiras Helenas: uma vida regrada a muito trabalho,
sofrimento e o sustento da família com 1 salário mínimo/mês.

Eu até entendo o fascínio que as novelas exercem nos telespectadores pelo seu caráter lúdico, afinal, estamos falando de entretenimento. Mas, a cena em que a Luciana, filha do Galã, recebe como presente de aniversário um anel de R$45.000 só porque estava meio brigada com o pai foi um insulto a mais da metade da população brasileira que se enquadra na condição de Classe Média. Gente, estou falando de uma novela em que o núcleo “pobre” reside em Búzios!

Adoro novelas. Assisto sempre que posso, gosto de discutí-las, torço pelos personagens, sofro com seus dilemas e sempre me decepciono com os finais nada surpreendentes (fato!), e por esses motivos posso dizer que “Viver a Vida” tem a audiência digna de uma verba milionária, mas o seu conteúdo parece ter sido retirado de um desses romances vendidos em banca de rodoviária.

Contexto pobre, diálogos fúteis e uma sessão de capítulos que nada acrescentam à trama, passando a quilômetros de distância do objetivo principal que, ao meu entender, deveria mostrar às pessoas que é possível ser feliz e viver intensamente se houver coragem para superar suas limitações.

Desculpe, Manuel Carlos, eu sou apenas uma cidadã que como milhares de outras doam 1 hora de suas vidas para ficar em frente a televisão, na tentativa desesperada de encontrar uma programação de qualidade, e o mínimo que o senhor poderia fazer por nós é nos agraciar com uma história envolvente, sim, mas que não subestime tanto a nossa inteligência.

Enquanto isso não acontece, eu irei preferir a companhia de um bom livro.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A beleza é o princípio do caos


O Grande Mestre e o Guardião dividiam a administração de um mosteiro zen. Certo dia, o Guardião morreu e foi preciso substituí-lo. O Grande Mestre reuniu todos os discípulos para escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seu lado.

“Vou apresentar um problema”, disse o Grande Mestre. “E aquele que o resolver primeiro, será o novo Guardião do templo”.

Terminado o seu curtíssimo discurso, colocou um banquinho no centro da sala. Em cima estava um vaso de porcelana caríssimo, com uma rosa vermelha a enfeitá-lo. “Eis o problema”, disse o Grande Mestre.

Os discípulos contemplavam, perplexos, o que viam: os desenhos sofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegância da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria o enigma?

Depois de alguns minutos, um dos discípulos levantou-se, olhou o mestre e os alunos a sua volta. Depois, caminhou resolutamente até o vaso, e atirou-o no chão, destruindo-o.

“Você é o novo Guardião”, disse o Grande Mestre para o aluno. Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou: “Eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. Não importa quão belo e fascinante seja, um problema tem que ser eliminado”.

“Um problema é um problema; pode ser um vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que já não faz mais sentido, um caminho que precisa ser abandonado - mas que insistimos em percorrê-lo porque nos traz conforto”, disse. “Só existe uma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente”.

“Nessas horas, não se pode ter piedade, nem ser tentado pelo lado fascinante que qualquer conflito carrega consigo”.

Esse texto é de Paulo Coelho e eu o li em sua coluna no G1. Adorei! Com certeza ele não mudou a minha vida, mas me fez pensar como somos facilmente enganados pelas aparências.


A Bela também não confiava na Fera.
Aposto que o Príncipe da Cinderela não teve esse problema...

Não duvidamos da beleza, talvez, porque quando crianças nos ensinaram que os heróis eram belos e fortes e os vilões sempre tinham uma aparência horrível. Fomos programados para identificar o bem e o mau por seu aspecto físico, e nem adianta dizer que agora somos adultos e deveríamos saber que isso não é verdade. Não, não é. Mas, tente fazer o seu cérebro esquecer todos aqueles anos mantendo-o em estado de alerta sempre que você ouvia “Não faça careta! Isso é uma coisa feia que só os meninos(as) maus(ás) fazem”.

Crescemos acreditando na beleza como sinônimo de pureza. E é por esse motivo que relutamos tanto em nos “desfazer” de quaisquer problemas que não tenham uma verruga na ponta do nariz, e assim será até o fim dos tempos.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

4h52



4h52. Esse é o horário que me atormenta. Nas últimas duas semanas, exatamente às 4h52 eu acordo, sem qualquer razão aparente. Bom, no sábado foi às 4h56, mas talvez por ser sábado eu tivesse direito a 4 minutos a mais de sono.

Isso começou há duas semanas, quarta-feira, às 4h52 ele me ligou dizendo que queria me ver. Claro, devia estar bêbado, mas esse era apenas um detalhe, aquele que o encorajava. Dizia que estava se esforçando para não ligar, começou a pedir desculpas. Sua voz era ansiosa, havia muita expectativa, mas talvez fosse um pouco tarde para voltar atrás. Era tarde.

Tentei me concentrar em tudo que estava ouvindo, mas era impossível. Ele falava rápido demais, e por vezes remeteu a uma conversa que tivemos 3 dias antes. Eu havia acabado de acordar e ainda não sabia a importância daquela conversa, às 4h52.

- Fala mais devagar porque eu não estou entendendo.
- Você vai me dizer “acredita!”, aí eu vou dizer que não quero acreditar. E eu vou ter que ir embora, mas tudo bem, eu não tenho que entender, não é?!
- Calma, me diz o que você quer.
- Esquece, desculpa!

Quando se diz “esquece” é porque há algo para não se esquecer. Levantei da cama, acendi a luz na esperança de que aquilo clareasse um pouco a minha memória. Até aquele momento, eu não imaginava que tínhamos algum problema. Sim, nós não concordávamos em tudo, mas aquela discussão sobre “bar, boteco e copo sujo” não se conjectura exatamente como um problema.

- Eu também quero te ver, você sabe disso. Não pode ser amanhã?
- Pode! É que eu vi o seu último torpedo e fiquei com tanta vontade de falar com você, mas eu sei que não deveria, me desculpa. Eu só não queria que você tivesse que trabalhar amanhã, pra eu poder passar o dia inteiro com você...

São 5h15 e até hoje eu não consigo pegar no sono antes do sol nascer. E, talvez, ainda leve algum tempo para compreender que às 4h52 da manhã de uma quarta-feira, eu ouvi mais do que deveria. E por saber tanto, hoje eu não tenho quase nada...


 
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