quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Tempo pra ter tempo



Eu lembro quando minha única prioridade era ele. E como o meu dia só começava quando a janela do MSN piscava e eu recebia o meu “Bom Dia, gatona!”. Não é engraçado como, às vezes, a vida ganha sentido com tão pouco? Basta querermos tanto alguma coisa que simplesmente não precisamos de nenhuma outra.

Foi uma das épocas mais fodidas de maior perrengue da minha vida, mas não importava se fazia sol ou se eu tinha estourado os meus 3 cartões de crédito e o único dia do mês em que a minha conta não estava no vermelho era no dia do pagamento, eu acordava e dormia sorrindo. Dia desses, conversando com um amigo, ele me perguntou o que ele tinha de tão especial, e eu respondi:

- Na verdade, não era o que ele tinha, mas o que ele me dava: tempo.

Não é inacreditável como as pessoas nunca têm tempo para elas? Estão sempre ocupadas trabalhando, pagando contas, resolvendo problemas e se desculpando por não terem tempo suficiente para viverem e, então, alguém lhe dá o que ninguém tem, tempo!

Tempo para prestar atenção nas roupas que você veste, descobrir a cor dos seus olhos, saber a sua comida preferida, entender o seu trabalho, ouvir as suas histórias. Tempo para enxergar o que você é.

Ele me deu tanto tempo que quando não teve mais tempo para mim, eu já sabia ver o meu próprio tempo. Comecei a não exigir tanto da felicidade, mas aproveitar o suficiente de cada momento, sem me importar se seriam longos ou curtos, desde que fossem únicos.

Hoje, eu me lembro de quanto do meu tempo eu dei a ele, e mesmo que ele não faça mais parte da minha vida, estará comigo pra sempre. Porque eterno não é a sua presença, mas o aprendizado que ele me trouxe.

Certamente, ele não foi o homem da minha vida. É como diz aquele velho ditado: “Ninguém entra em nossa vida por acaso”. Sempre nos trazem algo que precisamos aprender e levam algo que já não nos servem mais. Esse é o ciclo da vida. É a renovação que nos permite crescer e, principalmente, aceitar o risco de fazer a vida valer a pena.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Então, é Natal!


Finais de ano são irritantes! Eu até acho bonitinho o clima de Natal, as expectativas pela chegada de um novo ano (aliás, preciso combinar o meu Reveillon. Oi, me convida?), as confraternizações e um mundo feliz para sempre, fim! Mas, até chegar a esse período, você precisa enfrentar shoppings lotados, bancos lotados, ruas lotadas e um mês inteirinho de propagandas ridículas que tentam fazer você acreditar na magia de um Natal com flocos de Neve. Oi, verão ainda não chegou e estamos beirando aos 34˚C.

Não estou mal-humorada. Eu só acho que não é preciso tanto estardalhaço para comemorar uma festa que, teoricamente, deveria ser mais religiosa do que comercial. Todo mundo fala em paz, luz, amor, união e mimimimimi, desde que acompanhado por um lindo embrulho. Isso sem mencionar as reuniões familiares. Não é por nada, mas quantas pessoas vocês conhecem que de-tes-tam seus parentes, mas se sentem na obrigação de fingir que as desavenças acabaram só porque é Natal? Santa Hipocrisia, tende piedade de mim, amém!

E pra quê todas aquelas promessas? Quer fazer a diferença na sua vida? Mude! A qualquer hora, a qualquer momento, hoje, agora, já! Precisa de um primeiro de ano qualquer para fazer isso? O maior estímulo que você pode ter é a sua própria vontade de mudar.

Vamos parar com todas essas apologias de fim de ano. Vá cuidar da sua vida e esqueça as mágoas, os rancores, as traições. Você não é perfeito, provavelmente, também já magoou alguém, ofendeu ou traiu. Perdoar é um exercício que deve ser praticado constantemente, não está relacionado a datas comemorativas. Reúna-se às pessoas que você mais ama e faça questão de mostrar isso a elas, não porque é feriado nacional, mas porque você nunca saberá quando elas ainda estarão lá. E presenteie! Presenteie com amor, com admiração, com respeito. O maior presente que alguém pode receber de você é a sua consideração e a única coisa que você deve esperar é um sorriso. Não há no mundo algo que se equipare ao sentimento de ser o “responsável” por promover a felicidade de alguém, mesmo que momentânea.

Bom, mesmo, seria se esse sentimento de boa vontade que impera entre o Natal e o Ano Novo também estivesse presente na vida das pessoas entre o Ano Novo e o Natal. Sem fingimentos, sem prerrogativas, sem tanta maldade.

Esses são os meus sinceros votos de um Feliz Natal!


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Escolhendo uma profissão


Eu tinha 17 anos, e uma decisão que influenciaria toda minha vida: “O que eu vou ser quando eu crescer?”

O teste vocacional me incentivava a apostar nas Ciências Humanas. O meu pai, nas Biomédicas. E eu só tinha a certeza de não queria nada relacionado a Exatas. Lembro que durante todo aquele ano, eu optava por um novo curso a cada 3 meses: de janeiro a março, eu quis ser Psicóloga; de abril a junho, meu sonho era a Fonoaudiologia; de julho a setembro, fiquei apaixonada pela Arquitetura; e quando finalmente chegou a época das inscrições, optei pela Publicidade.

Eu fazia questão de discutir com meus pais os prós e contras de cada profissão. Não esperava pela aprovação deles, mas queria que tivessem orgulho da minha escolha e, claro, me orientassem para que eu fosse capaz de fazer a melhor.

Rá! Você acreditou, né?! Mas, sinto desapontar, eu até era boazinha, mas nunca fui exemplo de nada. Claro que eu não ouvi meus pais! Que aborrecente faria isso? Dãããããããããããããã!

Meu pai ainda “vivia” na época que para ser considerado “bem-sucedido” era preciso um Dr. ou Drª. antecedendo o seu nome em um cartão de visitas. Aquela visão antiquada me irritava, ainda mais quando ele ousava me comparar com minha prima que havia escolhido Odontologia, provocando discussões calorosas sobre minha opção e, obviamente, reforçando-a ainda mais.


A chatice dos adultos... Ninguém aguenta tanto Nhé Nhé Nhé!

Na sua última tentativa de me fazer investir na carreira de Publicitária, meu pai veio com o argumento de que a profissão estava bastante desvalorizada no meu estado, os salários eram baixos e a expectativa, muito pouco promissora. Nesse momento, eu enchi os olhos de lágrimas e disse:

- Assim como existem Publicitários que não ganham uma pequena fortuna mensalmente, existem médicos que mal conseguem sobreviver aos plantões. Existem advogados vendendo cachorro-quente e fisioterapeutas aceitando uma remuneração de R$500,00/mês para terem o direito de exercer sua profissão. Eu acredito que por mais saturado que o mercado esteja, sempre haverá espaço para os bons, quem dirá, para os melhores. E eu só serei boa no que faço se estiver feliz ao fazer.

Venci pelo cansaço. Fiz minha inscrição no curso de Comunicação Social em uma famosa faculdade do meu estado, fui aprovada no vestibular, estudei com afinco, estagiei e consegui um contrato quando ainda estava no 5˚ Período. Era o primeiro passo para um longo e glorioso futuro.

Três anos se passaram. Sentados à mesa de café da manhã, em uma das tradicionais reuniões na casa da minha avó, chegamos a polêmica discussão sobre carreiras. O foco, agora, eram as decisões profissionais que a 2˚ geração da família logo teriam que enfrentar. Só que, desta vez, havia exemplos práticos para oferecer. E quem fez as honras foi o meu pai:

- Eu disse para Nanynha ser doutora. Olha aí, as três se formaram no mesmo ano: a Popo é dentista, já está com consultório montado e carro do ano. A Rose é farmacêutica, já sustenta a casa e ainda paga a escola da irmã. E Nanynha, é o quê?

- Uai, Pai, eu sou feliz!


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

As orelhas que me pesam


Já tive ângulos melhores...

Eu não sou do tipo que acredita em contos de fadas. Na maioria das vezes, não me arrisco sem estar ciente que dou conta de encarar a situação. Mas, excesso de confiança e um par de olhos verdes fizeram todas as minhas convicções parecerem utopia.

Há tempos eu não conhecia ninguém que despertasse a minha atenção. Eu já tinha até desistido dessa história de me apaixonar e ser feliz para sempre. Estava começando a avaliar as opções que me sobrava e tinha decidido que me tornar uma workaholic era a alternativa mais apropriada. Até que um cafa daqueles simplesmente rouba todos os meus planos e me deixa na saudade, literalmente.

Caí na tentação consciente de que seria apenas uma noite muita divertida. E foi. E eu comecei a desconfiar que tinha sido vítima da minha própria armadilha quando eu acordei lembrando do seu beijo docemente ardente. Mantive a calma e pensei: ok! foi bom e é natural que eu leve algumas horas para abstrair a história.

Mais tarde, quando fui lavar a roupa que havia vestido, um sorriso me despertou para um terrível pesadelo ao perceber que a blusa ainda tinha o cheiro dele. Epa, Epa, EPA! Sinal vermelho ligado e um letreiro gigante escrito PERIGO começa a piscar bem a minha frente.

Mas, eu logo pensei que estava me preocupando demais. Afinal, cafas não ligam no dia seguinte, não mandam sinais de fumaça em menos de uma semana (quando mandam) e, definitivamente, eu estava em um terreno seguro. Mas, eis que a vida é uma caixinha de surpresas... E quando a gente menos espera, chega um torpedo.

Já almoçou?
Estava esperando um convite... ;-)

Acabei de acordar, passo aí em 30 min. Bjo.


E ao invés de dar pulinhos de alegria, entrei em pânico e repassando cada detalhe da noite anterior, fiquei imaginando o que eu havia feito para aquele cidadão querer sair comigo de novo. É caros leitores, tenho a autoestima do tamanho de uma ervilha. Não sei o que eu fiz de certo (ou de errado), mas a verdade é que os torpedos chegavam quase todos os dias, e os fins de semana eram preenchidos por uma euforia devastadora. Quase apaixonante.

Foi, então, que para ser esperta, eu tomei a atitude mais burra já constatada no universo das comedoras de capim: eu me afastei... por medo! Eu simplesmente tinha a convicção de que aquilo era perfeito demais para ser verdade e não quis arriscar. Estava tão segura de que estava pisando descalça em brasa quente que não havia a menor possibilidade de eu sair daquela situação sem me machucar.

Sim, fui covarde. Tive medo de me envolver, daquilo virar um relacionamento, e não porque não quisesse um, mas por não estar segura que isso me faria bem.

Foi difícil lidar com essa (inusitada) situação. Eu só conseguia pensar em como seria maravilhoso se eu tivesse passado mais tempo com ele, como eu precisava sentir tudo aquilo novamente, em como eu adorava a forma como ele me olhava, o jeito sutil com que me acariciava, as bobeiras que a gente compartilhava... E como eu ficaria se eu pudesse... se ele quisesse... se desse...

Mas, eu ainda carrego as orelhas que não me deixam esquecer que “Mulé é um bicho burro mermo” e enquanto capim não virar caviar eu vou continuar pastando.


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Em nome do amor?!

Dia desses, lendo as notícias, eu fiquei estarrecida com duas notícias intituladas, indevidamente, como “Prova de Amor”, como se fosse possível provar o amor de alguém. Talvez por isso chamam essas provas de loucuras, afinal, só sendo insano para cometer barbaridades em nome do amor.

No primeiro caso, uma mulher de 39 anos fugiu com um homem que tinha acabado de conhecer, literalmente, para viver sua grande história de amor. Além dessa jovem senhora ter deixado a família desesperada por 5 dias devido ao seu sumiço, ela teve a disparidade de dizer que para viver ao lado do “homem da sua vida” valia qualquer coisa.

O “homem da vida” dessa mulher era um assassino com quem ela havia flertado por alguns minutos na estação de metrô. 7 dias depois de terem trocado o primeiro beijo, ela concluiu que ele era mais importante do que sua filha, família, emprego, casa e carro. Abandonou tudo por alguém que disse o que ela queria ouvir.

Sinceramente, eu acho possível se apaixonar em um primeiro olhar, mas acreditar em “amor bandido”? Será que ela pensou que poderia ser personagem de uma das novelas de Manuel Carlos? Será que ela andava tão carente a ponto de confiar sua vida a um estranho? Será que o amor exige esse tipo de risco?

O segundo caso me deixou ainda mais perplexa. Uma mulher traída pelo seu marido impôs como condição do seu perdão a morte da amante. E foi assim que uma moça de 24 anos perdeu a vida. Não estou defendendo a traição, nem me interessa as razões que os levaram a manter um relacionamento, não estou aqui para julgá-los, mas a morte não é uma pena severa demais para uma pessoa que cometeu o erro de se envolver com um homem casado?

E por que ela teve que morrer quando era ele quem tinha um compromisso? Oras, eu já fui traída e sei que no fundo queremos culpar a outra (detesto essa conotação) pela traição do nosso parceiro, mas, francamente, se ele realmente amasse sua mulher teria dito: “sinto muito, mas eu amo minha esposa e não vou magoá-la”.

Tenho medo quando penso do que as pessoas são capazes, principalmente, quando dizem que é “por amor”. O amor não mata, não condena, não machuca. Pelo contrário, o amor perdoa, protege, cuida. Amor é incondicional, não vem atrelado a provas. O amor é doação e não submissão. É estima e não covardia.

Para ser amado, você primeiro precisa se amar. Se olhar no espelho e enxergar o quanto você é única(o) e especial, e se quem está ao seu lado não é capaz de reconhecer isso, então, você também não deveria amá-lo. O amor não vem do outro, está dentro de nós, é por isso que somos capazes de amar qualquer pessoa, a qualquer momento, desde que você se permita a isso.

Como dizia o poeta, "você não pode exigir o amor de ninguém, apenas pode dar boas razões para que o amem. Só porque alguém não te ame como você gostaria não significa que não te ame com tudo que pode", então, não exija provas e não acredite quando alguém diz que pode dá-las a você. O princípio do amor é a confiança, se você já perdeu, não pode perder mais nada.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Conto de Fadas da Vida Moderna



Assistindo a novela de Manuel Carlos, Viver a Vida, eu fico imaginando se é possível existir uma mulher com tanta sorte quanto a Helena. Mulher forte, segura, bem-sucedida, que se apaixona por um homem milionário, lindo, gentil, inteligente e, sem quaisquer dificuldades, ela o conquista, casa e vai passar a Lua de Mel em Paris.

É ou não é o Conto de Fadas da vida moderna?

Tudo tão simples que, sinceramente, me senti vivendo em um mundo paralelo. E vindo de mim, isso pode parecer um pouco cínico, afinal, eu sempre fui muito amada, sempre tive boa vida, conquistei uma carreira, tenho sim problemas como qualquer mortal, mas supero todos eles usando um salto 15cm, sorry. O que eu quero dizer é que se para mim aquele mundo encantado vivido por todas as "Helenas" de Manuel Carlos parece algo surreal, imagina para os mais de 170 milhões de brasileiros que vivem com um salário mínimo?

As verdadeiras Helenas: uma vida regrada a muito trabalho,
sofrimento e o sustento da família com 1 salário mínimo/mês.

Eu até entendo o fascínio que as novelas exercem nos telespectadores pelo seu caráter lúdico, afinal, estamos falando de entretenimento. Mas, a cena em que a Luciana, filha do Galã, recebe como presente de aniversário um anel de R$45.000 só porque estava meio brigada com o pai foi um insulto a mais da metade da população brasileira que se enquadra na condição de Classe Média. Gente, estou falando de uma novela em que o núcleo “pobre” reside em Búzios!

Adoro novelas. Assisto sempre que posso, gosto de discutí-las, torço pelos personagens, sofro com seus dilemas e sempre me decepciono com os finais nada surpreendentes (fato!), e por esses motivos posso dizer que “Viver a Vida” tem a audiência digna de uma verba milionária, mas o seu conteúdo parece ter sido retirado de um desses romances vendidos em banca de rodoviária.

Contexto pobre, diálogos fúteis e uma sessão de capítulos que nada acrescentam à trama, passando a quilômetros de distância do objetivo principal que, ao meu entender, deveria mostrar às pessoas que é possível ser feliz e viver intensamente se houver coragem para superar suas limitações.

Desculpe, Manuel Carlos, eu sou apenas uma cidadã que como milhares de outras doam 1 hora de suas vidas para ficar em frente a televisão, na tentativa desesperada de encontrar uma programação de qualidade, e o mínimo que o senhor poderia fazer por nós é nos agraciar com uma história envolvente, sim, mas que não subestime tanto a nossa inteligência.

Enquanto isso não acontece, eu irei preferir a companhia de um bom livro.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A beleza é o princípio do caos


O Grande Mestre e o Guardião dividiam a administração de um mosteiro zen. Certo dia, o Guardião morreu e foi preciso substituí-lo. O Grande Mestre reuniu todos os discípulos para escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seu lado.

“Vou apresentar um problema”, disse o Grande Mestre. “E aquele que o resolver primeiro, será o novo Guardião do templo”.

Terminado o seu curtíssimo discurso, colocou um banquinho no centro da sala. Em cima estava um vaso de porcelana caríssimo, com uma rosa vermelha a enfeitá-lo. “Eis o problema”, disse o Grande Mestre.

Os discípulos contemplavam, perplexos, o que viam: os desenhos sofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegância da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria o enigma?

Depois de alguns minutos, um dos discípulos levantou-se, olhou o mestre e os alunos a sua volta. Depois, caminhou resolutamente até o vaso, e atirou-o no chão, destruindo-o.

“Você é o novo Guardião”, disse o Grande Mestre para o aluno. Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou: “Eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. Não importa quão belo e fascinante seja, um problema tem que ser eliminado”.

“Um problema é um problema; pode ser um vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que já não faz mais sentido, um caminho que precisa ser abandonado - mas que insistimos em percorrê-lo porque nos traz conforto”, disse. “Só existe uma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente”.

“Nessas horas, não se pode ter piedade, nem ser tentado pelo lado fascinante que qualquer conflito carrega consigo”.

Esse texto é de Paulo Coelho e eu o li em sua coluna no G1. Adorei! Com certeza ele não mudou a minha vida, mas me fez pensar como somos facilmente enganados pelas aparências.


A Bela também não confiava na Fera.
Aposto que o Príncipe da Cinderela não teve esse problema...

Não duvidamos da beleza, talvez, porque quando crianças nos ensinaram que os heróis eram belos e fortes e os vilões sempre tinham uma aparência horrível. Fomos programados para identificar o bem e o mau por seu aspecto físico, e nem adianta dizer que agora somos adultos e deveríamos saber que isso não é verdade. Não, não é. Mas, tente fazer o seu cérebro esquecer todos aqueles anos mantendo-o em estado de alerta sempre que você ouvia “Não faça careta! Isso é uma coisa feia que só os meninos(as) maus(ás) fazem”.

Crescemos acreditando na beleza como sinônimo de pureza. E é por esse motivo que relutamos tanto em nos “desfazer” de quaisquer problemas que não tenham uma verruga na ponta do nariz, e assim será até o fim dos tempos.


terça-feira, 6 de outubro de 2009

4h52



4h52. Esse é o horário que me atormenta. Nas últimas duas semanas, exatamente às 4h52 eu acordo, sem qualquer razão aparente. Bom, no sábado foi às 4h56, mas talvez por ser sábado eu tivesse direito a 4 minutos a mais de sono.

Isso começou há duas semanas, quarta-feira, às 4h52 ele me ligou dizendo que queria me ver. Claro, devia estar bêbado, mas esse era apenas um detalhe, aquele que o encorajava. Dizia que estava se esforçando para não ligar, começou a pedir desculpas. Sua voz era ansiosa, havia muita expectativa, mas talvez fosse um pouco tarde para voltar atrás. Era tarde.

Tentei me concentrar em tudo que estava ouvindo, mas era impossível. Ele falava rápido demais, e por vezes remeteu a uma conversa que tivemos 3 dias antes. Eu havia acabado de acordar e ainda não sabia a importância daquela conversa, às 4h52.

- Fala mais devagar porque eu não estou entendendo.
- Você vai me dizer “acredita!”, aí eu vou dizer que não quero acreditar. E eu vou ter que ir embora, mas tudo bem, eu não tenho que entender, não é?!
- Calma, me diz o que você quer.
- Esquece, desculpa!

Quando se diz “esquece” é porque há algo para não se esquecer. Levantei da cama, acendi a luz na esperança de que aquilo clareasse um pouco a minha memória. Até aquele momento, eu não imaginava que tínhamos algum problema. Sim, nós não concordávamos em tudo, mas aquela discussão sobre “bar, boteco e copo sujo” não se conjectura exatamente como um problema.

- Eu também quero te ver, você sabe disso. Não pode ser amanhã?
- Pode! É que eu vi o seu último torpedo e fiquei com tanta vontade de falar com você, mas eu sei que não deveria, me desculpa. Eu só não queria que você tivesse que trabalhar amanhã, pra eu poder passar o dia inteiro com você...

São 5h15 e até hoje eu não consigo pegar no sono antes do sol nascer. E, talvez, ainda leve algum tempo para compreender que às 4h52 da manhã de uma quarta-feira, eu ouvi mais do que deveria. E por saber tanto, hoje eu não tenho quase nada...


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Felicidade, pode entrar!


Quem foi que disse que só é possível ser feliz quando existe alguém proporcionando isso a você? Sinceramente, eu penso o contrário: quando estamos felizes, dispomos mais da pessoa que somos e, portanto, atraímos pessoas que complementam essa alegria. Em síntese, a felicidade está em nós, mas isso fica mais perceptível quando temos ao lado alguém para exteriorizar.

Eu sei, meio filosófico. Mas eu quis explicar isso porque ultimamente tenho ouvido coisas como: “Quem está provocando esse sorriso, hein?!”; “Nossa, como seus olhos brilham! Tempo que não a vejo assim...”; “Nanynha, aonde você achou essa felicidade toda que eu também vou dar uma passadinha lá!”. Desculpe desapontar, mas esses sorrisos que eu ando distribuindo é mérito todinho meu.



Demorei 25 anos para aprender que é um desperdício mandar embora as oportunidades que batem à minha porta, só porque eu não tenho garantias de que elas ainda estarão lá amanhã. Sempre querendo pisar em terreno firme, preferia viver na retaguarda porquê, sabe se lá quantas lágrimas poderiam me custar se eu ousasse arriscar uma aventura qualquer.

Sempre aconselhei às pessoas viverem o presente, curtir ao máximo tudo de melhor que o momento pudesse oferecer. O problema é que eu nunca confiei na felicidade momentânea. Se não fosse permanente, então, não merecia ser apreciado. E não adiantava tentar argumentar comigo, eu preferia ter minha paz de espírito à ver minha vida desordenada por causa de uma atitude impensada.

Até que exatamente 2 dias antes de completar mais um ano de vida, comecei a revirar umas fotos antigas e fiquei surpresa ao perceber que, em todas elas, meu sorriso era inigualável. Na maioria das fotos, eu ria com tanta vontade que era quase impossível ver os meus olhos porque quando não estavam fechados, estavam inundados... Eu ria de chorar!

Foi quando me dei conta que desde aquelas fotos muita coisa havia mudado: minha vida estava passando muito mais rápido do que eu gostaria. E, simplesmente, ela não esperava por certezas. As dúvidas eram o que eu tinha de mais concreto. Então, duas opções me restavam: assistir minha juventude se despedir de mim ou desfrutar de tudo que ela poderia oferecer. Não dava mais para esperar apenas pelos dias de sol, seria preciso também contemplar a chuva.

Não tem sido fácil adotar essa nova filosofia, mas tem sido notável as diferenças. E se tudo der certo, com certeza vai dar merda! Mas, como diria Lulu Santos:

... A alegria que me dá isso vai sem eu dizer.
E se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer.
O que eu ganho e o que eu perco, ninguém precisa saber”.

O máximo que eu posso fazer é estar consciente de que para mergulhar em um mar de rosas será inevitável me ferir em alguns espinhos, mas essa é a única forma de não passar anonimamente pela vida.


terça-feira, 18 de agosto de 2009

A síndrome do 1/4 de vida


Outro dia, conversando com uma amiga, ela me disse que eu estava enfrentando a crise dos 25. Na hora eu ri, mas dias depois ela me encaminhou esse texto que achei fantástico. Infelizmente, não tinha o nome do autor, então, se alguém souber, só mandar que eu assino.

"Você começa a se dar conta de que seu círculo de amigos é menor do que há alguns anos. Se dá conta de que é cada vez mais difícil vê-los e organizar horários por diferentes questões: trabalho, estudo, namorado(a), etc.

E cada vez desfruta mais dessa cervejinha que serve como desculpa para conversar um pouco. As multidões já não são 'tão divertidas'… E às vezes até lhe incomodam. Você estranha o bem-bom da escola, dos grupos, de socializar com as mesmas pessoas de forma constante.

Mas, começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Você começa a perceber que algumas pessoas são egoístas e que, talvez, esses amigos que você acreditava serem próximos não são exatamente as melhores pessoas que conheceu, e que o pessoal com quem perdeu contato são os amigos mais importantes para você. Ri com mais vontade, mas chora com menos lágrimas e mais dor.

Partem seu coração e você se pergunta como essa pessoa que amou tanto pode lhe fazer tanto mal. Ou, a noite você se lembre e se pergunte porquê não pode conhecer alguém o suficientemente interessante para querer conhecê-lo melhor. Parece que todos que você conhece já estão namorando há anos, alguns até começam a se casar. Talvez você também, realmente ame alguém, mas, simplesmente, não tem certeza se está preparado(a) para se comprometer pelo resto da vida.

Os encontros de uma noite começam a parecer baratos e ficar bêbado(a) e agir como um(a) idiota começa a parecer, realmente, estúpido.
Sair três vezes por final de semana lhe deixa esgotado(a) e significa muito dinheiro para seu pequeno salário. Olha para o seu trabalho e, talvez, não esteja nem perto do que pensava que estaria fazendo. Ou, talvez, esteja procurando algum trabalho e pensa que tem que começar de baixo e isso lhe dá um pouco de medo.

Dia a dia, você trata de começar a se entender, sobre o que quer e o que não quer. Suas opiniões se tornam mais fortes.
Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o normal, porque, de repente, você tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a sua lista do que é aceitável e do que não é. Às vezes, você se sente genial e invencível, outras… Apenas com medo e confuso(a). Você trata de se obstinar ao passado, mas se dá conta de que o passado se distancia mais e que não há outra opção a não ser continuar avançando. Você se preocupa com o futuro, empréstimos, dinheiro… E com construir uma vida. E por mais que ganhar a carreira seja grandioso, você não queria estar competindo nela.

O que, talvez, você não se dê conta, é que todos que estamos lendo esse textos nos identificamos com ele. Todos nós que temos 'vinte e tantos' e gostaríamos de voltar aos 15-16 algumas vezes. Parece ser um lugar instável, um caminho de passagem, uma bagunça na cabeça… Mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que deixar de aproveitá-la por causa dos nossos medos… Dizem que esses tempos são o cimento do nosso futuro. Parece que foi ontem que tínhamos 16…

Então, amanhã teremos 30?!?! Assim tão rápido?!?!

FAÇAMOS VALER NOSSO TEMPO… QUE ELE NÃO PASSE!*
A vida não se mede pelas vezes que você respira, mas sim por aqueles momentos que lhe deixam sem fôlego…*

Talvez, ajude a alguém a se dar conta de que não está sozinho em meio a tanta confusão…"



terça-feira, 4 de agosto de 2009

Solteira, sim?!


Eu sempre costumo dizer que difícil não é ficar sozinha (o). Difícil mesmo é namorar.

Ficar sozinha (o) é simples: você vai aonde quer, chega quando quer, bebe o que quer, come quando tem vontade, beija quem quiser, dar para quantos merecer e vai seguindo, fim de semana após fim de semana, sem ter a preocupação de dar satisfação da sua vida. Porque nesse estágio você ainda pode chamar sua vida de sua.

Agora, arrume um namorado (a) e prepare-se para as concessões. É claro que existem inúmeros pontos positivos em um relacionamento. Mas, a verdade é que abdicar das suas preferências, fazer a vontade do outro, suportar as investidas alheias, aturar as discussões tolas que invariavelmente se tornam homéricas, e todas aqueles rituais de um relacionamento é um tanto quanto sacrificante.

Por favor, entenda: não estou dizendo que é melhor ficar solteira. Estou dizendo que é mais simples. E é por ser tão fácil que a solidão vicia. Pessoas que ficam solteiras por muito tempo perdem o interesse ou paciência de encontrar alguém. E quando encontram, estão tão confortáveis às suas regras que simplesmente não conseguem abrir espaço e permitir que outra pessoa compartilhe da sua companhia.

A solidão só incomoda no início. Depois que se aprende a conviver consigo mesmo, ela se torna tão conveniente que você começa a ter medo de se apaixonar.

Esses dias uma amiga terminou um namoro de pouco mais de um ano. Como se não bastasse o sofrimento que ela estava passando por ter que enxergar o fim prematuro do seu “felizes para sempre”, ela teve que engolir a reviravolta do cidadão que em menos de um mês já estava conhecendo outras pessoas, digamos, mais profundamente. Eu nunca estive mais feliz na minha vida do que naquele momento. Por favor, eu não estava me deliciando com a desgraça alheia, longe disso! Eu estava com tanta pena dela que mal conseguia esconder a minha satisfação em não ter que passar por isso, de novo.

Ficar sozinho não é só bom, é necessário. É um tempo exclusivamente seu, para ser destinado ao seu autoconhecimento. Quando você está sozinho pode avaliar melhor o que acha certo e errado, ou que admira e o que critica, o que te faz bem e o que te faz mal, o que você precisa ou não para ser feliz. E, me desculpe a prepotência, mas não existe a menor possibilidade de descobrir isso engatando um namoro em outro.

Eu não acredito que as pessoas possam fazer outras pessoas felizes. Acredito que quando estamos felizes, somos capazes de dividir a nossa alegria com outras pessoas, e essa reciprocidade faz parecer que é a outra pessoa que está nos causando o sentimento. Quando você começa a perceber que é capaz de ser feliz sozinho, fica imaginando um motivo maior para escolher entrar em um relacionamento. É nesse momento que escolher a solidão parece ser a opção mais viável. Parece. Não se engane: carinho e afeto são imprescindíveis a natureza humana tanto quanto comer, beber e respirar.

É impossível passar uma vida inteira sem ter tido pelo menos uma decepção amorosa. Permita-se ter o tempo necessário para se refazer, se perdoar e se livrar dos ressentimentos. Passado, seja forte o suficiente para encarar uma nova paixão. Com o tempo a gente aprende, principalmente, que não é preciso um rótulo para se viver uma história. E que estar solteiro é só um termo que não invalida as suas perspectivas, esperanças, sonhos ou promessas de amor.


sexta-feira, 31 de julho de 2009

Cafas: por que não eles?

Ai, os cafajestes. O que seriam das mulheres sem esses seres repugnantes e incrivelmente fascinantes. Sim, os cafajestes. Aqueles que te fazem sofrer, chorar e jurar que você nunca mais se envolverá com ninguém. Aqueles que um dia depois de ter levado você aos céus, a jogará no inferno sem direito a uma breve estadia no purgatório, sem direito a misericórdia.

Eu desconfio que os cafas são tão atraentes porque eles desafiam a nossa natureza competitiva. É muito mais prazeroso dizer que o cafa está no seu pé há semanas do que dizer que aquele carinha fofo não desencana. Obviamente, porque para cada cafa existe, no mínimo, outras duas rivais. Conquistar o cafa é vencer todas elas sem descer do salto agulha.


Você pode até resistir, mas por que faria isso?

Os cafas são predadores perfeitos, sempre prontos para atacar. E o que eu acho mais incrível é que a natureza simplesmente age a favor deles. Cafas são incrivelmente lindos, tem uma voz sedutora, são atenciosos, divertidos, inteligentes. Os cafas ouvem a mulher e lembram dos assuntos conversados posteriormente, só para que ela se sinta confiante. Os cafas sabem como segurar uma mulher, envolvê-la nos braços, aconchegá-la em seu peito. Os cafas ligam no dia seguinte, eles olham nos olhos e sabem o momento exato de beijar. Aliás, os cafas não beijam, eles avançam até um limite tentador para que nós os beijemos.

Confesso que entendi arte que existe em ser um cafa depois que descobri que os homens poderiam ser os melhores amigos de uma mulher. Ah, isso é outra coisa que as pessoas ignoram: eles são fiéis aos seus amigos, mesmo que elas sejam mulheres. Se um cafa tem consideração por você, ele não vai poupá-la de todos os detalhes sórdidos de sua vida, irá apresentá-la a um mundo totalmente obscuro, habitado por mulheres recalcadas. Dizem as más línguas que os cafas foram os responsáveis pela revolta das mulheres que na década de 60 assumiram uma postura feminista diante do mundo, queimando sutiãs em praça pública.


As promessas de um cafa podem revolucionar o mundo!

Por favor, não confunda um cafa com um pegador. Cafas podem ser pegadores, mas os pegadores jamais serão cafas. Pegadores são meros aspirantes: impressionam pelo visual, têm a pegada, mas são broxantes quando abrem a boca. Em geral, pegadores servem para fim de festa e, invariavelmente, recebem telefones errados. Fato!

Eu realmente nunca pude culpar um cafa por falsas promessas. Até porque, depois de anos fazendo parte do convívio deles, acho que já consigo reconhecer os sinais. O que eu costumo dizer é o seguinte: mulheres são iludidas por natureza, é incorrigível essa nossa habilidade de fantasiar finais felizes. Então, pra quê temer o cafa? É mais provável que você se decepcione pelo excesso de expectativa do que pelo moço, propriamente dito.

Se acontecer de um cafa entrar a sua vida, relaxe e curta o momento. O máximo que pode acontecer é você precisar sufocar a saudade com algumas barras de chocolate.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

It is sunny



Talvez, eu devesse me importar com as coisas que realmente fazem diferença.
Falar sobre a crise, corrupção, fome, Influenza A . Discutir temas que ainda são tabus como a homossexualidade, aborto, eutanásia. Refletir a interferência da tecnologia como fator determinante ao comportamento da sociedade em seu modus operandi. Mas, nada disso parece ter a menor relevância para mim.

Existem tantas coisas que me incomodam verdadeiramente, tantas injustiças que me embrulham o estômago e fazem com que eu tenha raiva do meu egoísmo, por pensar só nos meus problemas tão insignificantes diante das dores que afligem o mundo. E nem assim, eu consigo me convencer de que eu não tenho problemas.

Realmente, é difícil entender essa necessidade de olhar para o próprio umbigo. Difícil assimilar a prepotência que carregamos quando achamos que os nossos problemas são os mais complexos de se resolver. E, talvez, sejam mesmo. Afinal, quem quer solução para os seus problemas? Quem quer uma vida plena e feliz, livre de preocupações que invadem a rotina e consomem a sua estranha paz?

Estamos acostumados com o caos. Somos tão íntimos dessa realidade desatinada que ficamos desorientados só de imaginar uma vida tranquila. Somos obrigados a manter a desordem em nossa vida financeira, pessoal ou profissional só para não nos perdermos da rotina.

Não queremos mudanças, por mais que esteja ao nosso alcance, porque com ela não sabemos lidar. Ela nos provoca medo, ansiedade, porque ela não faz promessas. As mudanças chegam faceiras e vão embora quando bem entendem, sem dar quaisquer satisfações, deixando apenas a pergunta: isso já não aconteceu antes?

Que importância tem o mundo para você? Qual é a diferença entre fazer o que tem que ser feito e fazer o melhor se o resultado é sempre o mesmo? Por que se preocupar com o sentimento de alguém se todos estão programados para sorrir?

Estou me acostumando a ver os dias ensolarados. É mais simples mostrar as pessoas o que elas desejam ver e dizer a elas o que querem ouvir, do que entender o que está errado. Tudo é tão artificial que se tornou quase impossível distinguir entre a verdade e a ilusão.

Nos tornamos máquinas, insensíveis à dor, ao desprezo, à indiferença, às tristezas. Deletamos quaisquer vestígios de emoção para parecermos inatingíveis. Parecemos robôs programados para rir mesmo quando somos consumidos pelo desespero, simplesmente, para não mostrar nossa natureza frágil.

Cultuamos o sol porque ele brilha até quando os dias estão nublados. Fazemos dele nosso principal cartão de visita para que ninguém perceba a tempestade que cai. Assim, podemos lavar a alma, com a certeza de que existe um arco-íris para ser contemplado.


sexta-feira, 3 de julho de 2009

O errado pode dar certo



Definitivamente, eu resolvi me desvencilhar do meu sexto sentido. E sabe o que eu espero ganhar com isso? Nada! Aliás, nada do que eu esperaria ganhar caso estivesse atenta aos sinais.

É simples de entender: nos últimos meses, tudo que eu tenho feito é esperar. Espero a pessoa certa, o momento certo, escolher as palavras certas, tomar a decisão certa. O pior é que todas as vezes que minha intuição diz que estou no caminho certo, tudo dá errado. Então, decidi simplesmente fazer tudo errado para ver se alguma coisa dá certo.

E, por incrível que pareça, fazer tudo que não me parece aconselhável tem me deixado particularmente satisfeita. Acho que é porque fazer escolhas que nem sempre parecem ser as melhores, muitas vezes terminam de um jeito muito melhor do que se espera, exatamente por não haver espera.

É engraçado como simplesmente ignoramos a intuição quando queremos muito que algo aconteça. Fingimos ouvi-la para continuarmos motivados com a nossa escolha, quando na verdade estamos atentos apenas às expectativas.

Criamos uma fantasia tão confiável que é quase possível tocá-la. E sempre que as coisas começam a indicar que o final não será tão lindo como você acredita, chegam as desculpas: “não sei explicar, mas algo dentro de mim me diz que vai dar certo”.

Sério, deveríamos ser equipadas por sirenes que disparariam todas as vezes em que falássemos um absurdo desses. Mas deveria ser um alerta tão ensurdecedor que seria capaz de causar um abalo sísmico. E ainda, assim, eu desconfio que arrumaríamos uma desculpa para o alarme ter disparado em uma situação tão segura.

Quando queremos acreditar em alguma coisa, simplesmente, acreditamos. Não adianta pedir conselho, buscar sinais, farejar rastros. Mesmo diante de um holofote, você ainda ignorará completamente todas as evidências e vai seguir determinada, até que você se cansar com uma frustração após a outra.

E foi depois de tantas investidas mal-sucedidas que optei apenas por fazer o que tenho vontade, sem ficar conjecturando as consequencias. O engraçado é que em alguns momentos, a certeza de que estou fazendo a escolha errada é a minha maior motivação para continuar, como se fosse uma forma de provar a mim mesma que, na verdade, era eu quem estava errada.

Até quando isso vai funcionar, eu não tenho a menor idéia, mas às vezes tudo o que se tem a perder é tão pouco perto do que se pode ganhar que vale a pena o risco. Porque se parar para pensar, nada é certo nessa vida,. Certo mesmo é o presente, a vontade que explode, o desejo que consome, o momento que não espera... É viver cada dia ao invés de esperar pelos dias em que tudo dará certo.

Talvez, seja mesmo o errado aquilo que nos falta para que as coisas comecem a funcionar certo para a gente.


sexta-feira, 26 de junho de 2009

O intervalo

Se algum dia eu tivesse a chance de voltar no tempo, eu faria tudo diferente. E não é por estar insatisfeita com a minha vida, muito pelo contrário, mas pela oportunidade de viver algo completamente novo.

Eu não sou do tipo de pessoa que acredita em coincidências. Também, não acredito em destino. Acredito em escolhas. São elas que constroem o nosso futuro, mediante as decisões que tomamos hoje.

Talvez, por isso, nunca me confortou aquela conversa de “não era para ser”. Para mim, isso é coisa de derrotado que não consegue arcar com as escolhas que fez. Ora, se não era para ser, por que houve uma decisão a ser tomada? Claro que era para ser, não só era, como foi. E os acontecimentos seguintes foram desencadeados por suas atitudes, ou seja, mais escolhas.

Se não fosse assim, por que teríamos o Livre - Arbítrio? Qual o sentido do Todo Poderoso nos dar o privilégio de escolher se ELE já tinha todo o plano feito?

Tenho uma teoria: para mim, viver é como andar por um longo corredor repleto de portas. Estas portas levam a mais variadas situações do universo. Escolher uma porta não significa permanecer nela, mas será preciso atravessá-la até achar a saída. Por isso, temos pessoas que encontram o sucesso, e outras, o fracasso. Umas se apaixonam milhares de vezes, e outras, apenas uma. Umas aprendem com os erros, e outras insistem neles. Umas encontram a morte, e outras, a vida.

O problema maior é que temos uma tendência a só acreditar em finais felizes. Não contam os erros, as tentativas, as lágrimas, os desafios, os fracassos, os pedidos, os não-atendidos... Às vezes, sinto que vivemos eternamente em uma espera contínua, como se a vida fosse apenas os momentos de pura felicidade e todo o resto apenas um intervalo irrefutável.

Ignoramos que esses intervalos sejam a nossa vida. Perdemos tempo, estagnamos diante da rotina, perdidos na ilusão de uma fantasia, esperamos ter a sorte de acordar no momento certo para aproveitar a oportunidade que se escancara bem a frente dos nossos olhos. Apenas sobrevivemos ao invés de viver.

Por que esperar para ser feliz ao invés de escolher sê-lo? A felicidade nada mais é do que estar satisfeito com tudo que se dispõe no momento. Isso significa que você pode querer mais, e talvez deva, mas consciente de que, por pior que pareça, você está exatamente aonde deveria estar.


terça-feira, 16 de junho de 2009

Lúcida madrugada

Acordei de ressaca. Olhos fundos, rosto amassado, uma dor de cabeça insuportável e o estômago um pouco embrulhado. Foi uma noite daquelas. O despertador toca. Argh! Parece estourar os meus tímpanos. Engraçado, nunca percebi o quanto ele soava alto.

Hoje é sexta-feira. Dia perfeito para uma ressaca. E esta é a pior que eu já tive. Juro! Pior do que se eu tivesse passado a noite inteira agarrada a um litro de Vodka. A minha ressaca aconteceu de um devaneio. Das minhas memórias. De algo que eu vivi há muitos anos. Que eu já resolvi, mas ainda é recente. A minha ressaca é moral!

Cheguei em casa disposta a resolver a minha vida. Eu já estava com tudo encaminhado. Já tinha namorado, já tinha um emprego, já tinha o meu apartamento. Não fazia o menor sentido continuar a pensar se o que ele me dissera há um ano era verdade. Após 7 anos, aquele homem me dizia que finalmente tinha acordado para a vida e que descobriu me amar profundamente. Quem ele pensa que é para aparecer assim, de repente, depois de tantos anos tentando recuperar o meu coração? Que abusado! Como ousa pensar que seria fácil?

Bom, mocinho, tenho uma surpresinha para você. Depois dessa declaração, eu vou ter que pensar. E muito. Talvez hoje, um ano depois, eu continue pensando. Ah, o que é isso? Eu tenho o direito. Nas outras duas vezes, você esteve com o controle da situação. Agora, não. Agora é a minha vez. Eu dou as cartas. Eu decido o que será do meu e do seu destino.

A pergunta que mais me assusta é: Então, por que eu não faço isso e acabo de vez com essa agonia? 

Talvez, ele tenha mudado. Afinal, eu sempre me dediquei a ele. À sua felicidade. Mesmo de longe. Talvez ele tenha percebido... Que eu sou a pessoa mais ingênua do mundo, para não dizer burra. É claro que apareceria agora que estou feliz. Que melhor momento para ele mostrar que continua sendo o mesmo verme de outras épocas?

Eu ainda consigo sentir a dor no peito. Lateja. Estou sufocada. Acabaram-se as lágrimas. Dói. Há esperança dele me dizer que é tudo um engano, apenas um desentendimento. Mas não... Quem sabe daqui a três anos? Em meio a uma risada cínica, é tudo que eu ouço. Ele acaba de pisar no último pedaço da minha dignidade.

Olho no relógio e o ponteiro marcam 3h. Eu já deveria estar dormindo há pelo menos 4 horas. Por que o sono não vem? Luzes apagadas, o barulhinho do ar condicionado e as cobertas aquecem o meu corpo. O travesseiro parece me incomodar. Tem algo de errado nele porque eu não encontro uma posição. Viro de um lado e de outro, mas meus pensamentos estão em sua potência máxima. Já fugiram do meu controle e, a essa altura, estou muito irritada por não conseguir apagar. Será que se eu ligar a televisão irá funcionar? Talvez o barulho confunda os meus pensamentos e eu consiga esquecer a sua existência, momentaneamente.

Já decidi! Não existe nada a ser dito. Deixarei que ele perceba o quanto é tarde para tudo isso. Eu tenho mais o que fazer. Mais do que esperar ele me envolver com suas falsas promessas. Minha vida está completa e me recuso a mudá-la agora. São 5h, amanhã eu trabalho. Boa noite, hora de dormir. Já tinha perdido muito tempo com essa história. Foi a minha última ressaca por sua causa.


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Coisas do amor


- Oi, você sumiu! Está fugindo de mim?
- Resolvi me afastar.
- Por quê? Alguma coisa que eu disse?
- Não. Acho que assim você vai perceber que sou eu o seu verdadeiro amor.

Silêncio.

Depois disso, o que mais há para falar? 

- Olha, me desculpa, mas eu não vou cair nessa história de novo!

Apesar de relutar em ouvir isso, as palavras ecoam na minha cabeça. Inacreditavelmente, parece que o meu cérebro sumiu e, com ele, todo o conjunto de ossos que o protegem. Agora só existe um grande oco. E as palavras ecoam... 1, 2, 15, 50, 10 mil vezes. Parece não encontrarem um limite.

Acabo me desconcentrando do trabalho. Eu não quero mais pensar nisso, mas é quase involuntário. Eu me esforço. Acaba a conversa. Será que eu poderia ter dito algo? Não. Qualquer coisa que dissesse pioraria a situação.

Ele não precisa saber do quanto suas palavras me atormentam. Na verdade, sempre me atormentaram, mas ele também nunca soube disso. 

- Eu tenho certeza do meu amor por você desde a primeira vez que te vi.

Apenas sussurro algo como “Faça o que quiser”. Um certo desdém soa dos meus lábios, apesar do meu coração bater mais forte do que a bateria de escola de samba. Aparentemente, estou calma. De alguma forma, consigo esconder o sangue que deixa as minhas bochechas rosadas. 

Você realmente não precisa saber do que eu sinto. Não cuidaria do meu coração como ele merece. Algum dia suas palavras não terão mais efeito sobre mim. Algum dia deixarei de pensar em você. Algum dia. Hoje ainda não. Enquanto espero, continuo escondendo as palpitações do meu coração. É melhor que você encontre o desprezo em minhas palavras. 

Mas a sua falta permanece. 

- Te amo, porra.
- Eu também.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Respeitável Público

Sabe o que eu acho péssimo? Quando os homens tentam nos convencer que somos loucas.

Você está no meio de uma discussão ocupada em explorar todos os argumentos cabíveis, desenterrando todas aos acusações que a memória é capaz de oferecer no momento, e o cidadão de repente solta um “Você é louca!”.

Coooomo assim????

Isso, sim, é um espetáculo que merece ser assistido...

Que mulher é meio confusa e vive fantasiando situações, eu não nego. Mas, nos acusar de insanidade mental para não ter que justificar a cara de pau é muita baixaria.

Esses dias, aconteceu uma situação muito bizarra. Tinha um Churupita que achou a minha cara de pudim e resolveu me cozinhar em banho-maria por, nada menos, que 5 meses. Sim, eu tenho paciência. Até que um dia, eu resolvi apostar alto e mostrar ao projeto de homem que é preciso honrar as calças que veste:

-  Vai fazer o que hoje?
-  Vou sair com minhas amigas.
-  Poxa, pensei em te levar para comer num japa, talvez.
-  Ótimo! Convite aceito. Saio com minhas amigas outro dia.
-  Hein?
-  O quê?
-  Você bebeu?
...
-  Você não iria sair com suas amigas?
-  Ué, mas tem 5 meses que você diz que quer sair comigo e eu sempre tenho planos. Hoje, o plano é aceitar o seu convite.
-  5 meses? Agora, você tá tentando me convencer de coisas que eu nem me lembro.
-  Você não se lembra que tem 5 meses que você me faz essa pergunta todas as sextas-feiras?
-  Agora, você está exagerando só para tornar mais verídico o que você tá falando, né?
-  Você está insinuando que eu estou inventando isso para quê?
-  ...
-  A gente tá discutindo?
-  Eu não, você que é louca!

1,2,3,4,5,6... Aaaaaaiiiimmmm!

-  Olha , aqui, se você não tem um pau digno de ser apresentado, ok! Eu até perdoo porque disso você não tem culpa, mas não justifica montar um circo só porque eu aceitei um convite que você me faz há 5 meses. E, por favor, na próxima vez que você resolver fingir que é macho use uma dessas desculpas esfarrapadas. Assim, pelo menos, você garante a fama de canalha. É bem melhor do que a de broxa!

Desculpa, quebrei o salto. Mas, sinceramente, eu mereço. É claro que eu preciso de alguma coisa para me irritar e causar algumas rugas. Não posso ser essa pessoa satisfeita o tempo inteiro, feliz com a família sempre presente, com os grandes (e melhores) amigos, exercendo a profissão que ama, morando no lugar que escolheu, independente, comendo e dormindo a hora que dá vontade e ainda tendo a audácia de usar uma bolsa Prada. Tá, eu não uso uma bolsa Prada. Não original.

Obviamente, minha vida sentimental tinha que ser uma comédia, aliás, uma comédia pastelão. Se não fosse assim, qual seria o drama em achar graça nas loucuras do dia-a-dia?


terça-feira, 26 de maio de 2009

O Plano

O sol já se despedia dando início a noite de domingo. Passou o dia inteiro olhando para o celular, pensando no que dizer se ela finalmente conseguisse coragem para ligar.

- Oi, então, tava pensando se a gente não poderia ir comer uma pizza. O que acha?

Achou direto demais.

- Oi, quanto tempo! Tá fazendo o quê? Se não tiver nada melhor para fazer, a gente poderia arrumar alguma coisa.

A sua cara de pau, por exemplo.

- E ae, filhote? Sumiu... Gente, que saudades de você. Então, liguei para saber se você não quer ir a pizzaria... Combinamos há tanto tempo, pensei que hoje poderia ser um bom dia...

Para você deixar de ser tão oferecida, quem sabe?!

Por fim, decidiu que seria mais um “Oi, como você está?” e, se por sorte, acabasse em um convite, ótimo. Caso contrário, abandonaria essa história, e dessa vez, falava sério.

Respirou fundo, sentiu seu coração disparar e resolveu comer algo antes. Sabe, só para não parecer tão ansiosa. Meia hora depois, voltou. Mais uma vez, respirou fundo, sentiu seu coração disparar, e antes que inventasse mais alguma desculpa, discou. Inutilmente, tinha apagado da memória do telefone. 

Quando caiu na caixa postal, pensou na sorte que teve. Não parecia mesmo ser uma boa idéia. No dia anterior, havia acendido uma vela e rezado para seus anjos. Queria um pouco mais de serenidade, aliás, ansiava por paciência. Ultimamente, estava enlouquecendo de tanto procurar respostas para perguntas que não precisava de respostas. Ela já sabia o que esperar de todas as perguntas que fazia.

Decidiu dar uma corrida. Se não aliviasse o estresse, pelo menos ajudaria ela em algumas calorias a menos. Mas, ela nem chegou a porta. No meio do caminho, caiu no sofá e ficou ali por alguns minutos, pensando em nada, foi despertada pelo toque do telefone. Seu coração disparou. Será que havia caído em segunda chamada? Será que ele tinha a porcaria do avisa aquele torpedo maldito que sempre avisa quando alguém liga? Era muita falta de sorte!

E o destino sempre brincava com ela: “Número Restrito”. E agora? Atender? Atendeu:

- Fala cachorra!
- Ah, é você?
- Tava esperando alguém?
- Com certeza, não você.
- Credo! É assim que você recebe seu macho? Se arruma que eu vou te levar a Igreja.
- Não quero ir a Igreja.
- Eu não perguntei se você quer ir, estou dizendo que vou te levar. Em 10 minutos, chego aí. Beijo.

Desligou, Cretino! Ele sempre fazia isso. Era seu melhor amigo, sempre muito disponível. Se arrumou com gosto, estava aliviada por ser ele. Gostava da sua companhia e, talvez, quisesse que fosse ele. Ele sempre a fazia se sentir a mulher mais querida do mundo, gostava de satisfazer suas vontades, colocava-a em um pedestal. Por vezes, ela chegou a pensar que talvez não fosse só amizade, mas um relacionamento estava fora de cogitação. A menos que isso fosse um plano de Deus. Será que isso é um plano DELE? Ai, JesusCristinho, não!

Fazia todo o sentido: ele sempre ligava para ela, vivia arrumando desculpas para tocá-la, fazia questão de pagar as contas, sempre a elogiava, tinha ciúmes dos seus namoradinhos, queria que ela tivesse ciúmes das suas namoradinhas, insistia em levá-la para todos os lugares... Ah, não! Ela não planejou ter um caso com seu melhor amigo. Isso poderia colocar tudo a perder com o ... Ah, é, não existe outro. Bom, mas definitivamente, isso era uma tragédia e seria melhor esclarecer tudo antes que tomasse grandes proporções.

- Precisava se arrumar assim?
- Desculpe, eu também não planejei nascer linda, mas isso também faz parte do plano de Deus.
- Hahahahahahahaha


Não houve Missa aquele dia. Aliás, houve, bem mais cedo que o costume. Agora, estava claro, ela tinha certeza que aquilo era um sinal e não estava gostando nada do rumo que as coisas estavam tomando. Ela tinha que tomar uma providencia e...

- Ai, meu Deus, você aqui?
- Oi! Viu assombração?
- Rá! Muito engraçado. Eu só nunca imaginei que o veria aqui.
- Quanto tempo, não é?
- Pois é... 
- Sabe, a gente poderia sair qualquer dia desses. Qual é o seu telefone? Acho que não o tenho mais.
- Ah, é o seu ao contrário, lembra?
- Hahahahahaha... Claro! Então, quando eu posso te ligar?
- Acho que na quarta seria um bom dia.
- Puxa! Você ainda está mais linda do que a última vez que te vi...
- Aham... Sei sei sei... Então, a gente se fala, tchau!

(...)

- Aonde você estava?
- Hã, eu?! Estava dando prosseguimento aos planos de Deus!
- Você é uma cachorra.
- E você, é um anjo!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cansei de ser sozinho!

É claro que você ouviu falar do manifesto dos solteiros que aconteceu em São Paulo. Sinceramente, foi a coisa mais patética que eu vi acontecer. Mais pareceu um monte de gente a toa, que não sabe aonde enfiar a cara de pau que carrega, ansiosos para aparecer na Globo. Plim. Plim.


Oi, se eu te der meu telefone você me liga?  (Foto: Patrícia Araújo/G1)

Que o mundo anda muito carente, ninguém duvida. As pessoas adoram gritar o quanto são livres, mas detestam ser livres o tempo todo. A verdade é que toda essa solidão é fruto de mundo cada vez mais egoísta. Desculpa, falei!

Queremos alguém do nosso lado, mas não queremos abrir mão das nossas prioridades para construir uma relação. Claro que exigimos que o outro faça isso por nós. Afinal, quem está interessado tem que fazer por onde, certo?! Aham, certíssimo!

Por que estamos sempre esperando que alguém ligue? Ligue você. É você quem está esperando uma ligação. Então, vem o medo de parecer fácil demais, e todo mundo sabe que ninguém dá valor ao que é fácil.

E quando o problema não é a falta de interesse, mas de tempo? Logo, alguém nos aconselha a não abrir mão dos nossos compromissos, afinal, se fizermos isso uma única vez, teremos que fazer sempre porque o outro ficará mal-acostumado.

Queremos parecer independentes, no entanto, estamos sempre buscando segurança. Temos medo da decepção. Temos medo de investir em um relacionamento sem futuro, como se fosse possível prever o futuro de qualquer coisa. Gostamos tanto da comodidade de uma vida vazia que a menor possibilidade de perder o controle das nossas emoções, fugimos. Sabotamos aos nossos próprios interesses enquanto fingimos satisfação em voltar para casa, noite após noite, sozinhos.

O que eu não entendo é porque essas pessoas que conseguem sair às ruas com um cartaz a mão escrito “CANSEI DE SER SOZINHO!” não têm a coragem de mudar. Mudar de atitude, mudar o olhar, mudar o pensamento. Muito fácil dizer que as pessoas não querem compromisso, quando elas próprias são incapazes de assumir um. Fácil se isentar da responsabilidade de não fazer nada além de manter o status “solteiro” no orkut.

Difícil mesmo é dar o primeiro passo. É acreditar que dá para ser feliz com alguém que não carrega a perfeição como principal característica. Difícil é entender que as pessoas erram, mesmo quando estão tentando dar o seu melhor. Compreender que nem sempre será bom, nem sempre será apenas sorrisos, haverá os momentos de tédio, de dor, de lágrimas, e ainda assim, resistir à tentação de desistir. 

Ninguém está preparado para suportar a aflição de encarar os próprios erros. E são nesses momentos que, muitas vezes, precisamos de alguém. Queremos ser compreendidos, apoiados, queremos alguém para nos amar incondicionalmente. Sinceramente, não é impossível ser feliz sozinho, mas descobrir isso pode ser ainda mais sofrido. 


sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pequenos Grandes Erros



Para ler ouvindo:
With or Whitout you - U2




Fico pensando se naquele dia a internet tivesse caído, como era costume.
Imagino que eu não conseguiria ler os recados alheios. Recados que eu não entendia o contexto.
Se a internet tivesse caído, eu jamais teria tentado interpretar o sentimento impresso em cinco palavras.

Apenas cinco palavras foram o suficiente para criar uma história inteira na minha cabeça.
Cinco palavras e eu imaginei ter argumentos suficientes para ser arrogante, debochada, orgulhosa... mimada. Era uma frase tão pequena, tão insignificante, e tão poderosa!

Se eu tivesse atendido a sua ligação com o mesmo entusiasmo que eu esperava por você, como será que estaríamos hoje?
Imagino que teríamos tido mais tempo. Nem que fosse para descobrir que não valeu o tempo que tivemos.
Se eu tivesse entendido mais cedo que eu não havia entendido, eu jamais teria perdido tanto tempo me explicando.

Fico pensando se eu, simplesmente, tivesse dito sim a pelo menos um dos três convites que você me fez aquele dia.
Eu não sei se teria sido diferente, mas eu sei que teria sido com você.
Se eu não tivesse tido tanta pressa para encontrá-lo, talvez não teria passado tão depressa. E eu não tive nem a chance de beijá-lo novamente... Deus, como eu quis beijá-lo!

Se hoje, fosse há um ano, eu faria diferente.
Imagino como seria se eu tivesse a oportunidade de consertar um erro. Nem que fosse só pela possibilidade de não contar tantos “se”...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Da Dor

Queria rasgar-se inteira.
Já podia sentir o sangue escorrendo pelo seu corpo, manchando o piso branco que acabara de ser limpo.

Estava cansada da futilidade das pessoas. Era tanta hipocrisia que tinha vontade de gritar a todos: vão à merda e me deixem em paz! Sentia que apesar da sua paciência se esgotar, não podia simplesmente ser ríspida. Nem todos tinham a capacidade de compreender a verdade. Preferiam se esconder sob o rótulo de vítimas, como se o mundo conspirasse contra elas. Era tão tedioso ouvir sempre as mesmas lamentações.

Por algumas vezes, esboçou seu egoísmo e, por incrível que pareça, não houve reação. Pudera! Estavam presos a uma muralha de reclamações e fingiam excitação para continuarem tendo pena de si mesmos. Olhava para todos com desdém, mas não importava. Estavam cegos, perdidos na própria desgraça, reforçavam suas frustrações alimentando o desespero que fora enfrentar seu passado podre.

Para que ficar questionando tudo, o tempo todo, como se não fossem responsáveis por suas escolhas? Seria tão difícil, assim, aceitar que nem sempre as coisas acontecem como esperamos? Seria tão ruim não ter uma vida sempre cor de rosa?

Sentia um certo prazer no negro que, às vezes, esboçava em sua rotina. A aflição jamais viera revestida de Luz, e nessas horas, tentava apenas ouvir o seu coração. Desejava ardentemente que as lágrimas corressem pelo seu rosto, como se pudessem lavar a alma, mas dificilmente conseguia. A frieza dos seus sentimentos não deixava a menor dúvida: estava incrédula.

Ninguém ligava para os seus sentimentos, desde que estivesse bem para dizer aos outros como deveriam se sentir. E, assim, foi até o dia em que disse o que ninguém queria ouvir. Compreendeu, então, que não queriam ser aconselhados, queriam ser consolados. Pobres infelizes!

É óbvio que também não gostava da dor, porém tinha consciência de que ela nada mais é do que um pedido de atenção. É o seu corpo, o seu espírito, se comunicando com você. Deixe a ferida exposta e ela se putrificará. Assim, também acontece com a alma.

Estava impotente. Tinha tanta vontade de ajudar que mal pode perceber que estavam usurpando suas forças. Tarde demais, se recusou a compartilhar daquela mediocridade. Estava cansada desse mundo. Para ela, já não havia mais esperança.

 
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