terça-feira, 26 de maio de 2009

O Plano

O sol já se despedia dando início a noite de domingo. Passou o dia inteiro olhando para o celular, pensando no que dizer se ela finalmente conseguisse coragem para ligar.

- Oi, então, tava pensando se a gente não poderia ir comer uma pizza. O que acha?

Achou direto demais.

- Oi, quanto tempo! Tá fazendo o quê? Se não tiver nada melhor para fazer, a gente poderia arrumar alguma coisa.

A sua cara de pau, por exemplo.

- E ae, filhote? Sumiu... Gente, que saudades de você. Então, liguei para saber se você não quer ir a pizzaria... Combinamos há tanto tempo, pensei que hoje poderia ser um bom dia...

Para você deixar de ser tão oferecida, quem sabe?!

Por fim, decidiu que seria mais um “Oi, como você está?” e, se por sorte, acabasse em um convite, ótimo. Caso contrário, abandonaria essa história, e dessa vez, falava sério.

Respirou fundo, sentiu seu coração disparar e resolveu comer algo antes. Sabe, só para não parecer tão ansiosa. Meia hora depois, voltou. Mais uma vez, respirou fundo, sentiu seu coração disparar, e antes que inventasse mais alguma desculpa, discou. Inutilmente, tinha apagado da memória do telefone. 

Quando caiu na caixa postal, pensou na sorte que teve. Não parecia mesmo ser uma boa idéia. No dia anterior, havia acendido uma vela e rezado para seus anjos. Queria um pouco mais de serenidade, aliás, ansiava por paciência. Ultimamente, estava enlouquecendo de tanto procurar respostas para perguntas que não precisava de respostas. Ela já sabia o que esperar de todas as perguntas que fazia.

Decidiu dar uma corrida. Se não aliviasse o estresse, pelo menos ajudaria ela em algumas calorias a menos. Mas, ela nem chegou a porta. No meio do caminho, caiu no sofá e ficou ali por alguns minutos, pensando em nada, foi despertada pelo toque do telefone. Seu coração disparou. Será que havia caído em segunda chamada? Será que ele tinha a porcaria do avisa aquele torpedo maldito que sempre avisa quando alguém liga? Era muita falta de sorte!

E o destino sempre brincava com ela: “Número Restrito”. E agora? Atender? Atendeu:

- Fala cachorra!
- Ah, é você?
- Tava esperando alguém?
- Com certeza, não você.
- Credo! É assim que você recebe seu macho? Se arruma que eu vou te levar a Igreja.
- Não quero ir a Igreja.
- Eu não perguntei se você quer ir, estou dizendo que vou te levar. Em 10 minutos, chego aí. Beijo.

Desligou, Cretino! Ele sempre fazia isso. Era seu melhor amigo, sempre muito disponível. Se arrumou com gosto, estava aliviada por ser ele. Gostava da sua companhia e, talvez, quisesse que fosse ele. Ele sempre a fazia se sentir a mulher mais querida do mundo, gostava de satisfazer suas vontades, colocava-a em um pedestal. Por vezes, ela chegou a pensar que talvez não fosse só amizade, mas um relacionamento estava fora de cogitação. A menos que isso fosse um plano de Deus. Será que isso é um plano DELE? Ai, JesusCristinho, não!

Fazia todo o sentido: ele sempre ligava para ela, vivia arrumando desculpas para tocá-la, fazia questão de pagar as contas, sempre a elogiava, tinha ciúmes dos seus namoradinhos, queria que ela tivesse ciúmes das suas namoradinhas, insistia em levá-la para todos os lugares... Ah, não! Ela não planejou ter um caso com seu melhor amigo. Isso poderia colocar tudo a perder com o ... Ah, é, não existe outro. Bom, mas definitivamente, isso era uma tragédia e seria melhor esclarecer tudo antes que tomasse grandes proporções.

- Precisava se arrumar assim?
- Desculpe, eu também não planejei nascer linda, mas isso também faz parte do plano de Deus.
- Hahahahahahahaha


Não houve Missa aquele dia. Aliás, houve, bem mais cedo que o costume. Agora, estava claro, ela tinha certeza que aquilo era um sinal e não estava gostando nada do rumo que as coisas estavam tomando. Ela tinha que tomar uma providencia e...

- Ai, meu Deus, você aqui?
- Oi! Viu assombração?
- Rá! Muito engraçado. Eu só nunca imaginei que o veria aqui.
- Quanto tempo, não é?
- Pois é... 
- Sabe, a gente poderia sair qualquer dia desses. Qual é o seu telefone? Acho que não o tenho mais.
- Ah, é o seu ao contrário, lembra?
- Hahahahahaha... Claro! Então, quando eu posso te ligar?
- Acho que na quarta seria um bom dia.
- Puxa! Você ainda está mais linda do que a última vez que te vi...
- Aham... Sei sei sei... Então, a gente se fala, tchau!

(...)

- Aonde você estava?
- Hã, eu?! Estava dando prosseguimento aos planos de Deus!
- Você é uma cachorra.
- E você, é um anjo!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cansei de ser sozinho!

É claro que você ouviu falar do manifesto dos solteiros que aconteceu em São Paulo. Sinceramente, foi a coisa mais patética que eu vi acontecer. Mais pareceu um monte de gente a toa, que não sabe aonde enfiar a cara de pau que carrega, ansiosos para aparecer na Globo. Plim. Plim.


Oi, se eu te der meu telefone você me liga?  (Foto: Patrícia Araújo/G1)

Que o mundo anda muito carente, ninguém duvida. As pessoas adoram gritar o quanto são livres, mas detestam ser livres o tempo todo. A verdade é que toda essa solidão é fruto de mundo cada vez mais egoísta. Desculpa, falei!

Queremos alguém do nosso lado, mas não queremos abrir mão das nossas prioridades para construir uma relação. Claro que exigimos que o outro faça isso por nós. Afinal, quem está interessado tem que fazer por onde, certo?! Aham, certíssimo!

Por que estamos sempre esperando que alguém ligue? Ligue você. É você quem está esperando uma ligação. Então, vem o medo de parecer fácil demais, e todo mundo sabe que ninguém dá valor ao que é fácil.

E quando o problema não é a falta de interesse, mas de tempo? Logo, alguém nos aconselha a não abrir mão dos nossos compromissos, afinal, se fizermos isso uma única vez, teremos que fazer sempre porque o outro ficará mal-acostumado.

Queremos parecer independentes, no entanto, estamos sempre buscando segurança. Temos medo da decepção. Temos medo de investir em um relacionamento sem futuro, como se fosse possível prever o futuro de qualquer coisa. Gostamos tanto da comodidade de uma vida vazia que a menor possibilidade de perder o controle das nossas emoções, fugimos. Sabotamos aos nossos próprios interesses enquanto fingimos satisfação em voltar para casa, noite após noite, sozinhos.

O que eu não entendo é porque essas pessoas que conseguem sair às ruas com um cartaz a mão escrito “CANSEI DE SER SOZINHO!” não têm a coragem de mudar. Mudar de atitude, mudar o olhar, mudar o pensamento. Muito fácil dizer que as pessoas não querem compromisso, quando elas próprias são incapazes de assumir um. Fácil se isentar da responsabilidade de não fazer nada além de manter o status “solteiro” no orkut.

Difícil mesmo é dar o primeiro passo. É acreditar que dá para ser feliz com alguém que não carrega a perfeição como principal característica. Difícil é entender que as pessoas erram, mesmo quando estão tentando dar o seu melhor. Compreender que nem sempre será bom, nem sempre será apenas sorrisos, haverá os momentos de tédio, de dor, de lágrimas, e ainda assim, resistir à tentação de desistir. 

Ninguém está preparado para suportar a aflição de encarar os próprios erros. E são nesses momentos que, muitas vezes, precisamos de alguém. Queremos ser compreendidos, apoiados, queremos alguém para nos amar incondicionalmente. Sinceramente, não é impossível ser feliz sozinho, mas descobrir isso pode ser ainda mais sofrido. 


sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pequenos Grandes Erros



Para ler ouvindo:
With or Whitout you - U2




Fico pensando se naquele dia a internet tivesse caído, como era costume.
Imagino que eu não conseguiria ler os recados alheios. Recados que eu não entendia o contexto.
Se a internet tivesse caído, eu jamais teria tentado interpretar o sentimento impresso em cinco palavras.

Apenas cinco palavras foram o suficiente para criar uma história inteira na minha cabeça.
Cinco palavras e eu imaginei ter argumentos suficientes para ser arrogante, debochada, orgulhosa... mimada. Era uma frase tão pequena, tão insignificante, e tão poderosa!

Se eu tivesse atendido a sua ligação com o mesmo entusiasmo que eu esperava por você, como será que estaríamos hoje?
Imagino que teríamos tido mais tempo. Nem que fosse para descobrir que não valeu o tempo que tivemos.
Se eu tivesse entendido mais cedo que eu não havia entendido, eu jamais teria perdido tanto tempo me explicando.

Fico pensando se eu, simplesmente, tivesse dito sim a pelo menos um dos três convites que você me fez aquele dia.
Eu não sei se teria sido diferente, mas eu sei que teria sido com você.
Se eu não tivesse tido tanta pressa para encontrá-lo, talvez não teria passado tão depressa. E eu não tive nem a chance de beijá-lo novamente... Deus, como eu quis beijá-lo!

Se hoje, fosse há um ano, eu faria diferente.
Imagino como seria se eu tivesse a oportunidade de consertar um erro. Nem que fosse só pela possibilidade de não contar tantos “se”...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Da Dor

Queria rasgar-se inteira.
Já podia sentir o sangue escorrendo pelo seu corpo, manchando o piso branco que acabara de ser limpo.

Estava cansada da futilidade das pessoas. Era tanta hipocrisia que tinha vontade de gritar a todos: vão à merda e me deixem em paz! Sentia que apesar da sua paciência se esgotar, não podia simplesmente ser ríspida. Nem todos tinham a capacidade de compreender a verdade. Preferiam se esconder sob o rótulo de vítimas, como se o mundo conspirasse contra elas. Era tão tedioso ouvir sempre as mesmas lamentações.

Por algumas vezes, esboçou seu egoísmo e, por incrível que pareça, não houve reação. Pudera! Estavam presos a uma muralha de reclamações e fingiam excitação para continuarem tendo pena de si mesmos. Olhava para todos com desdém, mas não importava. Estavam cegos, perdidos na própria desgraça, reforçavam suas frustrações alimentando o desespero que fora enfrentar seu passado podre.

Para que ficar questionando tudo, o tempo todo, como se não fossem responsáveis por suas escolhas? Seria tão difícil, assim, aceitar que nem sempre as coisas acontecem como esperamos? Seria tão ruim não ter uma vida sempre cor de rosa?

Sentia um certo prazer no negro que, às vezes, esboçava em sua rotina. A aflição jamais viera revestida de Luz, e nessas horas, tentava apenas ouvir o seu coração. Desejava ardentemente que as lágrimas corressem pelo seu rosto, como se pudessem lavar a alma, mas dificilmente conseguia. A frieza dos seus sentimentos não deixava a menor dúvida: estava incrédula.

Ninguém ligava para os seus sentimentos, desde que estivesse bem para dizer aos outros como deveriam se sentir. E, assim, foi até o dia em que disse o que ninguém queria ouvir. Compreendeu, então, que não queriam ser aconselhados, queriam ser consolados. Pobres infelizes!

É óbvio que também não gostava da dor, porém tinha consciência de que ela nada mais é do que um pedido de atenção. É o seu corpo, o seu espírito, se comunicando com você. Deixe a ferida exposta e ela se putrificará. Assim, também acontece com a alma.

Estava impotente. Tinha tanta vontade de ajudar que mal pode perceber que estavam usurpando suas forças. Tarde demais, se recusou a compartilhar daquela mediocridade. Estava cansada desse mundo. Para ela, já não havia mais esperança.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Mode off


Dizia ela que não tinha do que se queixar. Mas, por mais estranho que fosse, vivia numa profunda insatisfação. O que, afinal, a incomodava tanto ela não sabia explicar, e sendo assim, não tinha a menor ideia do que fazer para calar sua angustia.

Então, decidiu por um dia, fazer tudo o que não faria. Imaginava quantas coisas poderia descobrir apenas testando novas possibilidades. Ficaria exausta só de pensar. Queria mudar o mundo, apenas mudando a forma de enxergá-lo.

Começou desistindo da dieta. E daí se ganhasse alguns quilos? Isso a faria voltar para a academia. Fazia tempo que não praticava exercícios físicos, então, talvez perder a forma não fosse assim tão ruim. Ficava imaginando uma rotina exaustiva em que ela, logo após sair do trabalho, corria para não perder o horário da ginástica. Se lembrou que detestava ginástica, e pensou: ótimo! Seria obrigada a conhecer uma outra modalidade.

Sua primeira iniciativa já dera uma grande perspectiva do que poderia se transformar a sua vida. Isso fez com que se empolgasse ainda mais. Voltou-se para o quarto. Enquanto revirava seu guarda-roupa procurando algo que não vestia há séculos, deu uma rápida espiada no espelho. Tentou recordar quando fora a última vez que experimentara um novo corte de cabelo e, antes que pudesse se dar conta, já estava no salão, aguardando impacientemente por sua vez.

Ao chegar em casa, achou que deveria sair. E não saiu. Resolveu fazer um bolo. Nossa, há quanto tempo não utilizava um forno e, agora, veja só, chegou a queimar a língua ao provar uma fatia do bolo que não era sua especialidade.

Ficou orgulhosa por ainda saber bater umas claras em neve. Se preocupava tanto com o trabalho que não perdia muito tempo com os afazeres domésticos. Lembrou que havia algumas roupas sujas que deveria lavar, mas antes que pudesse resmungar, obrigou-se a continuar deitada no sofá. Veria um filme.

Não estava acostumada a deixar as coisas acontecerem. Sempre controlava tudo, desde a hora em que acordava até, novamente, a hora em que voltava para a cama. Às vezes, se achava um tanto meticulosa, nem por isso ela se permitia relaxar. Ficava louca só de pensar que algo poderia acontecer, algo que ela realmente não tivesse esperando. Achava que o motivo de haver tantas pessoas frustradas era porque elas simplesmente criavam expectativas demais.

Só que aquele dia era especial. Se permitiu abrir espaço para o casual e estava confortável naquela situação. Jamais imaginou que houvesse tanto prazer em não ter uma rotina. Enquanto tentava não dormir assistindo ao filme, ouviu seu telefone tocar. Não atendeu. Era o que faria, então, pensou o quanto maravilhoso deveria ser receber uma ligação quando não se espera. Talvez, seja alguém apenas tentando tirá-la do seu sossego. Não atenda!, pensou ela. Dormiu.

Algumas horas depois, viu uma chamada perdida. Era um convite para um noite entre amigos. Já estava se preparando para voltar a cama, mas resolveu ir. Diferente das outras vezes, não fez nenhuma grande produção. Queria apenas sair despretensiosamente. E foi. Já estava ali há pouco mais de 1 hora quando recebeu outra ligação, outro convite, outro ensaio do acaso.

Não demorou muito para se despedir e saiu correndo para não deixar seus amigos esperando. Não estava vestida para a ocasião, mas quem se importava? Entrou. E sem ao menos pensar, olhou para trás. Era a vez do acaso brincar com ela.

De repente, ela compreendeu que tudo sempre estará ao seu alcance. Basta estar distraído o suficiente para não tentar controlar suas escolhas. Por ora, ela não precisava aprender mais nada. Virou-se e voltou a dançar.


quarta-feira, 6 de maio de 2009

A novela da minha vida - Parte II


Depois de passar a vida inteira sendo tripudiada por meia-dúzia de fedelhos egoístas, consegui mudar de escola. Pronto! Agora eu teria uma vida nova, começaria tudo de novo e esqueceria meu passado triste e infernal. Rá, iludida....

No auge dos meus 13 anos, eu parecia ter uns 18. Além das curvas, estava habituada a companhia de pessoas mais velhas, logo, falava como gente grande. Não demorou muito até que os rapazes percebessem isso, para minha sorte. Ou azar.

Não consegui completar a terceira semana de aula ilesa. O problema agora já não era mais ser a gorducha, eu era a novata! E pior, uma novata que chamava atenção. E muito. Rá!

Não demorou muito para eu conquistar nOvOs e eternos amigOs. Os melhores. Os mais lindOs. Os mais fOfOs. Os mais encantadores. E ninguém acreditava que eram SÓ meus amigos. De fato, às vezes, nem eu acreditava.

Abre parênteses. Todo homem, digamos, fofo, tem a sua legião de fãs. Vamos chamá-las, aqui, de “amiguinhas”. Pois bem, as “amiguinhas” são demoníacas e a sua vida será um inferno. Elas irão falar mal de você, irão convidá-lo para outros programas na sua frente (obviamente, o convite é para ELE, e por favor, não se inclua), irão pular no pescoço do seu cato enquanto você ainda estiver abraçada a ele, irão ignorar a sua presença completamente e, principalmente, irão odiá-la para todo o sempre. Ah, nem pense em reclamar com o bonito, você não vai querer que ele ache você neurótica só porque as “amiguinhas” dele fazem qualquer coisa para estragar o "happy the end" de vocês. Fecha parênteses.

Eu era provocada por pessoas que eu nem sabia o nome. Que eu nunca tinha visto! E elas me criticavam por qualquer coisa. Pelo Amor de Chiquinho, eu nem saía de casa nessa época, eu só tinha 13 anos!

A verdade é que eu nunca consegui parar de me sentir um toucinho. Isso fez com que eu sempre valorizasse outras qualidades. Eu sentia que tinha obrigação de ser simpática, inteligente e educada. Eu não era como as garotas da minha idade, eu não queria ser melhor do que elas, só não queria ser eu.

É difícil estar em uma idade em que precisamos urgentemente ser aceitos, mas não nos enquadramos em nenhum grupo. Não importava se eu tinha ao meu lado os caras que toda garotinha gostaria de ter, na verdade, acho que eu trocaria a realidade pelo sonho delas, só para pode estar com elas.

Aprendi com eles tudo que uma mulher não deveria saber. Eles me davam os conselhos que toda menina deveria ouvir. Eu guardava os segredos que nem sonhava que podiam acontecer. Eu dividia com eles o carinho que todas as outras “amiguinhas” desejavam ter. Mas, não era suficiente. Não era o bastante para que elas gostassem de mim.

As poucas amigas que eu tinha ficavam admiradas com o tratamento que eles me davam. Eu nunca tive um amigo que ultrapasse os limites, e nunca precisei pedir que eles tivessem limites. Acho que foi nessa época que eu descobri que respeito a gente não pede, a gente impõe.

Enfim, pelo que eu me recordo, só largaram do meu pé quando eu comecei a namorar. Namorar de verdade. Ah, antes que eu me esqueça, ele não era um dos meus amigos. =D

O que eu demorei a compreender é que elas nunca me fizeram mal. Aliás, foi o maior bem que eu poderia ter recebido. Enquanto todas aquelas pessoas perdiam tempo falando mal uma das outras, arrumando apelidinhos ou preocupadas em inventar alguma fofoca, eu estava ocupando meu tempo com coisas realmente importantes. Não que eu soubesse que eram importantes, não que tenha sido engraçado, mas com certeza, é irônico.

Irônico porque hoje, quando eu as vejo, tenho vontade de abraçá-las. Talvez, se elas tivessem gostado de mim, eu ainda estaria no mesmo lugar. Talvez, eu seria apenas um rosto bonitinho. Talvez, eu também não tivesse uma carreira. Talvez, minha maior preocupação fosse arrumar um marido. Talvez, eu não tivesse nem uma identidade.

O tempo não fez com que elas mudassem a forma como me olham, nem poderia porque agora eu realmente sei os motivos, mas com certeza fez com que eu mudasse a forma de olhá-las.
Agora, vejo-as de cima!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A novela da minha vida! Parte - I


Ah! As crianças... Como são ingênuas, despreocupadas, divertidas, sinceras e más!
Sim, crianças são malvadas, por isso, têm aquelas carinhas de anjo, apenas para disfarçar. Duvida? Então, prepare os lenços porque eu tenho uma história para contar.

Nunca fui uma menina, digamos, popular. Quando pequena, minha mãe era uma famosa costureira que atendia as madames da cidade. Isso me dava o privilégio de ter uma “personal styler” 24h por dia, que me produzia esplendorosamente para as menores ocasiões. Era o bastante para despertar a invejinha das meninas que não tinham o vestido que a Xuxa havia usado no dia anterior. Claro, porque, além de tudo, minha mãe era rápida na agulha: crie a tendência ou siga a moda. Em cidade do interior isso significa: seja como ela ou fale mal dela. Logo, fui crescendo fofa e só. Tinha os vestidos mais lindos da cidade, mas que raramente saíam do guarda-roupa.

Nessa época, mais ou menos, comecei a descontar toda minha ansiedade na comida. Nada me saciava. Cheguei aos 8 anos vestindo 42, ainda hoje eu não uso essa numeração (e se Minha Nossa Senhora Protetora das Balanças me ajudar, jamais voltarei a usar). Ainda guardo um shortinho simbólico para registro do fato.

Juro! Ninguém tem idéia do quanto é doloroso ser uma criança gorda. E nem é só por causa dos apelidos, aliás, os apelidos são os menores dos problemas. Ninguém quer ser visto com a Balofa e, obviamente, você é o último a ser escolhido nas brincadeiras, afinal, você é lento e não consegue subir nada mais alto do que a calçada.

Tenho poucas lembranças dessa época. Passava os finais de semana com meus pais, no sítio, e durante a semana eu brincava com a Gaby, minha única e fiel amiga. A Gaby era gaúcha e, portanto, o seu sotaque também não ajudava muito no quesito amizade. Éramos apenas nós duas, até que chegou o dia que ela novamente teria que se mudar.

Lembro que comecei a chorar quando recebi a notícia. E continuei chorando quando ela se mudou. Engraçado como meus pais nunca perceberam o quanto eu era sozinha. Eu costumava não reclamar. Já achava ruim demais ser gorda.

Foi quando eu comecei a ter os livros como meus melhores amigos. Lia todos os livros recomendados pela professora, estudava todos os conteúdos, e não só em dia de prova, fazia todos os deveres de casa, e odiava a escola cada dia mais. A minhas notas eram inversamente proporcional a quantidade de amigos. Certa vez, meus coleguinhas ficaram sem falar comigo por mais de 1 mês porque não puderam questionar o nível de dificuldade da prova de Português em que quase a turma inteira havia ficado na média. Quase. A balofa da classe tirara 10.

Foi nessa época que me promoveram a Toucinho. Junto com o novo apelido veio a minha ascensão social, logo após meu pai ganhar as eleições municipais para vereador. Já não era mais digna de ser chamada de Balofa, Pelanca ou Pancinha. Agora, eu era a filha de Seu Fulano.

Vivia em crise existencial. As pessoas só queriam a minha companhia quando isso significava um 10 em seus Boletins, ou seja, trabalhos em grupo, provas em dupla, Feira de Ciências e afins. E aqueles pseudoscretinos ainda faziam questão de desmerecer todo meu empenho dizendo que minhas notas eram um presente dos professores “puxa-sacos”. Os professores me amavam. Eu questionava, era dedicada, fazia os deveres, tirava boas notas... Uai, eram as únicas pessoas que falavam comigo, eu queria agradá-los.

Lógico que toda essa pressão me tornou uma pessoa ansiosa, insegura e MAGRA. Se antes eu extravasava na comida, passei a extravasar no esporte. Ocupava todas as horas do meu dia praticando algum exercício físico. E pouco tempo depois, eu já recebia olhares de todos os menininhos da escola, e o ódio das menininhas.

Fui a primeira da classe a dar um beijo na boca. Tinha uma mobilete enquanto as outras andavam de bicicleta. Foi nessa época que descobri que homens poderiam ser melhores amigos que as mulheres. Claro que eu tive a felicidade te ter como melhor amigo o gatinho da oitava série (eu era sexta) e a infelicidade de me apaixonar por ele, mas isso é história para outro post. . Passávamos o recreio inteiro juntos, ficávamos horas ao telefone e ele vinha à minha casa todos os fins de semana na sua Jog. Pensam que só por isso ficou mais fácil? Enganam-se! Eu era xingada de nomes que nem sabia que existiam.

Arthur me protegia. Pedia para eu ignorar os comentários, assim, plantamos o odinho no coração de muitas menininhas. E era feliz. Ele me fazia sentir especial, eu ria de todas as piadas sem-graça dele, ficava com seus bonés, assistimos o filme do Pateta 13 vezes e ele me ensinava as músicas de todos os desenhos animados.

Era lindo...
 
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