quarta-feira, 13 de maio de 2009

Da Dor

Queria rasgar-se inteira.
Já podia sentir o sangue escorrendo pelo seu corpo, manchando o piso branco que acabara de ser limpo.

Estava cansada da futilidade das pessoas. Era tanta hipocrisia que tinha vontade de gritar a todos: vão à merda e me deixem em paz! Sentia que apesar da sua paciência se esgotar, não podia simplesmente ser ríspida. Nem todos tinham a capacidade de compreender a verdade. Preferiam se esconder sob o rótulo de vítimas, como se o mundo conspirasse contra elas. Era tão tedioso ouvir sempre as mesmas lamentações.

Por algumas vezes, esboçou seu egoísmo e, por incrível que pareça, não houve reação. Pudera! Estavam presos a uma muralha de reclamações e fingiam excitação para continuarem tendo pena de si mesmos. Olhava para todos com desdém, mas não importava. Estavam cegos, perdidos na própria desgraça, reforçavam suas frustrações alimentando o desespero que fora enfrentar seu passado podre.

Para que ficar questionando tudo, o tempo todo, como se não fossem responsáveis por suas escolhas? Seria tão difícil, assim, aceitar que nem sempre as coisas acontecem como esperamos? Seria tão ruim não ter uma vida sempre cor de rosa?

Sentia um certo prazer no negro que, às vezes, esboçava em sua rotina. A aflição jamais viera revestida de Luz, e nessas horas, tentava apenas ouvir o seu coração. Desejava ardentemente que as lágrimas corressem pelo seu rosto, como se pudessem lavar a alma, mas dificilmente conseguia. A frieza dos seus sentimentos não deixava a menor dúvida: estava incrédula.

Ninguém ligava para os seus sentimentos, desde que estivesse bem para dizer aos outros como deveriam se sentir. E, assim, foi até o dia em que disse o que ninguém queria ouvir. Compreendeu, então, que não queriam ser aconselhados, queriam ser consolados. Pobres infelizes!

É óbvio que também não gostava da dor, porém tinha consciência de que ela nada mais é do que um pedido de atenção. É o seu corpo, o seu espírito, se comunicando com você. Deixe a ferida exposta e ela se putrificará. Assim, também acontece com a alma.

Estava impotente. Tinha tanta vontade de ajudar que mal pode perceber que estavam usurpando suas forças. Tarde demais, se recusou a compartilhar daquela mediocridade. Estava cansada desse mundo. Para ela, já não havia mais esperança.

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