segunda-feira, 4 de maio de 2009

A novela da minha vida! Parte - I


Ah! As crianças... Como são ingênuas, despreocupadas, divertidas, sinceras e más!
Sim, crianças são malvadas, por isso, têm aquelas carinhas de anjo, apenas para disfarçar. Duvida? Então, prepare os lenços porque eu tenho uma história para contar.

Nunca fui uma menina, digamos, popular. Quando pequena, minha mãe era uma famosa costureira que atendia as madames da cidade. Isso me dava o privilégio de ter uma “personal styler” 24h por dia, que me produzia esplendorosamente para as menores ocasiões. Era o bastante para despertar a invejinha das meninas que não tinham o vestido que a Xuxa havia usado no dia anterior. Claro, porque, além de tudo, minha mãe era rápida na agulha: crie a tendência ou siga a moda. Em cidade do interior isso significa: seja como ela ou fale mal dela. Logo, fui crescendo fofa e só. Tinha os vestidos mais lindos da cidade, mas que raramente saíam do guarda-roupa.

Nessa época, mais ou menos, comecei a descontar toda minha ansiedade na comida. Nada me saciava. Cheguei aos 8 anos vestindo 42, ainda hoje eu não uso essa numeração (e se Minha Nossa Senhora Protetora das Balanças me ajudar, jamais voltarei a usar). Ainda guardo um shortinho simbólico para registro do fato.

Juro! Ninguém tem idéia do quanto é doloroso ser uma criança gorda. E nem é só por causa dos apelidos, aliás, os apelidos são os menores dos problemas. Ninguém quer ser visto com a Balofa e, obviamente, você é o último a ser escolhido nas brincadeiras, afinal, você é lento e não consegue subir nada mais alto do que a calçada.

Tenho poucas lembranças dessa época. Passava os finais de semana com meus pais, no sítio, e durante a semana eu brincava com a Gaby, minha única e fiel amiga. A Gaby era gaúcha e, portanto, o seu sotaque também não ajudava muito no quesito amizade. Éramos apenas nós duas, até que chegou o dia que ela novamente teria que se mudar.

Lembro que comecei a chorar quando recebi a notícia. E continuei chorando quando ela se mudou. Engraçado como meus pais nunca perceberam o quanto eu era sozinha. Eu costumava não reclamar. Já achava ruim demais ser gorda.

Foi quando eu comecei a ter os livros como meus melhores amigos. Lia todos os livros recomendados pela professora, estudava todos os conteúdos, e não só em dia de prova, fazia todos os deveres de casa, e odiava a escola cada dia mais. A minhas notas eram inversamente proporcional a quantidade de amigos. Certa vez, meus coleguinhas ficaram sem falar comigo por mais de 1 mês porque não puderam questionar o nível de dificuldade da prova de Português em que quase a turma inteira havia ficado na média. Quase. A balofa da classe tirara 10.

Foi nessa época que me promoveram a Toucinho. Junto com o novo apelido veio a minha ascensão social, logo após meu pai ganhar as eleições municipais para vereador. Já não era mais digna de ser chamada de Balofa, Pelanca ou Pancinha. Agora, eu era a filha de Seu Fulano.

Vivia em crise existencial. As pessoas só queriam a minha companhia quando isso significava um 10 em seus Boletins, ou seja, trabalhos em grupo, provas em dupla, Feira de Ciências e afins. E aqueles pseudoscretinos ainda faziam questão de desmerecer todo meu empenho dizendo que minhas notas eram um presente dos professores “puxa-sacos”. Os professores me amavam. Eu questionava, era dedicada, fazia os deveres, tirava boas notas... Uai, eram as únicas pessoas que falavam comigo, eu queria agradá-los.

Lógico que toda essa pressão me tornou uma pessoa ansiosa, insegura e MAGRA. Se antes eu extravasava na comida, passei a extravasar no esporte. Ocupava todas as horas do meu dia praticando algum exercício físico. E pouco tempo depois, eu já recebia olhares de todos os menininhos da escola, e o ódio das menininhas.

Fui a primeira da classe a dar um beijo na boca. Tinha uma mobilete enquanto as outras andavam de bicicleta. Foi nessa época que descobri que homens poderiam ser melhores amigos que as mulheres. Claro que eu tive a felicidade te ter como melhor amigo o gatinho da oitava série (eu era sexta) e a infelicidade de me apaixonar por ele, mas isso é história para outro post. . Passávamos o recreio inteiro juntos, ficávamos horas ao telefone e ele vinha à minha casa todos os fins de semana na sua Jog. Pensam que só por isso ficou mais fácil? Enganam-se! Eu era xingada de nomes que nem sabia que existiam.

Arthur me protegia. Pedia para eu ignorar os comentários, assim, plantamos o odinho no coração de muitas menininhas. E era feliz. Ele me fazia sentir especial, eu ria de todas as piadas sem-graça dele, ficava com seus bonés, assistimos o filme do Pateta 13 vezes e ele me ensinava as músicas de todos os desenhos animados.

Era lindo...

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