sexta-feira, 26 de junho de 2009

O intervalo

Se algum dia eu tivesse a chance de voltar no tempo, eu faria tudo diferente. E não é por estar insatisfeita com a minha vida, muito pelo contrário, mas pela oportunidade de viver algo completamente novo.

Eu não sou do tipo de pessoa que acredita em coincidências. Também, não acredito em destino. Acredito em escolhas. São elas que constroem o nosso futuro, mediante as decisões que tomamos hoje.

Talvez, por isso, nunca me confortou aquela conversa de “não era para ser”. Para mim, isso é coisa de derrotado que não consegue arcar com as escolhas que fez. Ora, se não era para ser, por que houve uma decisão a ser tomada? Claro que era para ser, não só era, como foi. E os acontecimentos seguintes foram desencadeados por suas atitudes, ou seja, mais escolhas.

Se não fosse assim, por que teríamos o Livre - Arbítrio? Qual o sentido do Todo Poderoso nos dar o privilégio de escolher se ELE já tinha todo o plano feito?

Tenho uma teoria: para mim, viver é como andar por um longo corredor repleto de portas. Estas portas levam a mais variadas situações do universo. Escolher uma porta não significa permanecer nela, mas será preciso atravessá-la até achar a saída. Por isso, temos pessoas que encontram o sucesso, e outras, o fracasso. Umas se apaixonam milhares de vezes, e outras, apenas uma. Umas aprendem com os erros, e outras insistem neles. Umas encontram a morte, e outras, a vida.

O problema maior é que temos uma tendência a só acreditar em finais felizes. Não contam os erros, as tentativas, as lágrimas, os desafios, os fracassos, os pedidos, os não-atendidos... Às vezes, sinto que vivemos eternamente em uma espera contínua, como se a vida fosse apenas os momentos de pura felicidade e todo o resto apenas um intervalo irrefutável.

Ignoramos que esses intervalos sejam a nossa vida. Perdemos tempo, estagnamos diante da rotina, perdidos na ilusão de uma fantasia, esperamos ter a sorte de acordar no momento certo para aproveitar a oportunidade que se escancara bem a frente dos nossos olhos. Apenas sobrevivemos ao invés de viver.

Por que esperar para ser feliz ao invés de escolher sê-lo? A felicidade nada mais é do que estar satisfeito com tudo que se dispõe no momento. Isso significa que você pode querer mais, e talvez deva, mas consciente de que, por pior que pareça, você está exatamente aonde deveria estar.


terça-feira, 16 de junho de 2009

Lúcida madrugada

Acordei de ressaca. Olhos fundos, rosto amassado, uma dor de cabeça insuportável e o estômago um pouco embrulhado. Foi uma noite daquelas. O despertador toca. Argh! Parece estourar os meus tímpanos. Engraçado, nunca percebi o quanto ele soava alto.

Hoje é sexta-feira. Dia perfeito para uma ressaca. E esta é a pior que eu já tive. Juro! Pior do que se eu tivesse passado a noite inteira agarrada a um litro de Vodka. A minha ressaca aconteceu de um devaneio. Das minhas memórias. De algo que eu vivi há muitos anos. Que eu já resolvi, mas ainda é recente. A minha ressaca é moral!

Cheguei em casa disposta a resolver a minha vida. Eu já estava com tudo encaminhado. Já tinha namorado, já tinha um emprego, já tinha o meu apartamento. Não fazia o menor sentido continuar a pensar se o que ele me dissera há um ano era verdade. Após 7 anos, aquele homem me dizia que finalmente tinha acordado para a vida e que descobriu me amar profundamente. Quem ele pensa que é para aparecer assim, de repente, depois de tantos anos tentando recuperar o meu coração? Que abusado! Como ousa pensar que seria fácil?

Bom, mocinho, tenho uma surpresinha para você. Depois dessa declaração, eu vou ter que pensar. E muito. Talvez hoje, um ano depois, eu continue pensando. Ah, o que é isso? Eu tenho o direito. Nas outras duas vezes, você esteve com o controle da situação. Agora, não. Agora é a minha vez. Eu dou as cartas. Eu decido o que será do meu e do seu destino.

A pergunta que mais me assusta é: Então, por que eu não faço isso e acabo de vez com essa agonia? 

Talvez, ele tenha mudado. Afinal, eu sempre me dediquei a ele. À sua felicidade. Mesmo de longe. Talvez ele tenha percebido... Que eu sou a pessoa mais ingênua do mundo, para não dizer burra. É claro que apareceria agora que estou feliz. Que melhor momento para ele mostrar que continua sendo o mesmo verme de outras épocas?

Eu ainda consigo sentir a dor no peito. Lateja. Estou sufocada. Acabaram-se as lágrimas. Dói. Há esperança dele me dizer que é tudo um engano, apenas um desentendimento. Mas não... Quem sabe daqui a três anos? Em meio a uma risada cínica, é tudo que eu ouço. Ele acaba de pisar no último pedaço da minha dignidade.

Olho no relógio e o ponteiro marcam 3h. Eu já deveria estar dormindo há pelo menos 4 horas. Por que o sono não vem? Luzes apagadas, o barulhinho do ar condicionado e as cobertas aquecem o meu corpo. O travesseiro parece me incomodar. Tem algo de errado nele porque eu não encontro uma posição. Viro de um lado e de outro, mas meus pensamentos estão em sua potência máxima. Já fugiram do meu controle e, a essa altura, estou muito irritada por não conseguir apagar. Será que se eu ligar a televisão irá funcionar? Talvez o barulho confunda os meus pensamentos e eu consiga esquecer a sua existência, momentaneamente.

Já decidi! Não existe nada a ser dito. Deixarei que ele perceba o quanto é tarde para tudo isso. Eu tenho mais o que fazer. Mais do que esperar ele me envolver com suas falsas promessas. Minha vida está completa e me recuso a mudá-la agora. São 5h, amanhã eu trabalho. Boa noite, hora de dormir. Já tinha perdido muito tempo com essa história. Foi a minha última ressaca por sua causa.


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Coisas do amor


- Oi, você sumiu! Está fugindo de mim?
- Resolvi me afastar.
- Por quê? Alguma coisa que eu disse?
- Não. Acho que assim você vai perceber que sou eu o seu verdadeiro amor.

Silêncio.

Depois disso, o que mais há para falar? 

- Olha, me desculpa, mas eu não vou cair nessa história de novo!

Apesar de relutar em ouvir isso, as palavras ecoam na minha cabeça. Inacreditavelmente, parece que o meu cérebro sumiu e, com ele, todo o conjunto de ossos que o protegem. Agora só existe um grande oco. E as palavras ecoam... 1, 2, 15, 50, 10 mil vezes. Parece não encontrarem um limite.

Acabo me desconcentrando do trabalho. Eu não quero mais pensar nisso, mas é quase involuntário. Eu me esforço. Acaba a conversa. Será que eu poderia ter dito algo? Não. Qualquer coisa que dissesse pioraria a situação.

Ele não precisa saber do quanto suas palavras me atormentam. Na verdade, sempre me atormentaram, mas ele também nunca soube disso. 

- Eu tenho certeza do meu amor por você desde a primeira vez que te vi.

Apenas sussurro algo como “Faça o que quiser”. Um certo desdém soa dos meus lábios, apesar do meu coração bater mais forte do que a bateria de escola de samba. Aparentemente, estou calma. De alguma forma, consigo esconder o sangue que deixa as minhas bochechas rosadas. 

Você realmente não precisa saber do que eu sinto. Não cuidaria do meu coração como ele merece. Algum dia suas palavras não terão mais efeito sobre mim. Algum dia deixarei de pensar em você. Algum dia. Hoje ainda não. Enquanto espero, continuo escondendo as palpitações do meu coração. É melhor que você encontre o desprezo em minhas palavras. 

Mas a sua falta permanece. 

- Te amo, porra.
- Eu também.


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Respeitável Público

Sabe o que eu acho péssimo? Quando os homens tentam nos convencer que somos loucas.

Você está no meio de uma discussão ocupada em explorar todos os argumentos cabíveis, desenterrando todas aos acusações que a memória é capaz de oferecer no momento, e o cidadão de repente solta um “Você é louca!”.

Coooomo assim????

Isso, sim, é um espetáculo que merece ser assistido...

Que mulher é meio confusa e vive fantasiando situações, eu não nego. Mas, nos acusar de insanidade mental para não ter que justificar a cara de pau é muita baixaria.

Esses dias, aconteceu uma situação muito bizarra. Tinha um Churupita que achou a minha cara de pudim e resolveu me cozinhar em banho-maria por, nada menos, que 5 meses. Sim, eu tenho paciência. Até que um dia, eu resolvi apostar alto e mostrar ao projeto de homem que é preciso honrar as calças que veste:

-  Vai fazer o que hoje?
-  Vou sair com minhas amigas.
-  Poxa, pensei em te levar para comer num japa, talvez.
-  Ótimo! Convite aceito. Saio com minhas amigas outro dia.
-  Hein?
-  O quê?
-  Você bebeu?
...
-  Você não iria sair com suas amigas?
-  Ué, mas tem 5 meses que você diz que quer sair comigo e eu sempre tenho planos. Hoje, o plano é aceitar o seu convite.
-  5 meses? Agora, você tá tentando me convencer de coisas que eu nem me lembro.
-  Você não se lembra que tem 5 meses que você me faz essa pergunta todas as sextas-feiras?
-  Agora, você está exagerando só para tornar mais verídico o que você tá falando, né?
-  Você está insinuando que eu estou inventando isso para quê?
-  ...
-  A gente tá discutindo?
-  Eu não, você que é louca!

1,2,3,4,5,6... Aaaaaaiiiimmmm!

-  Olha , aqui, se você não tem um pau digno de ser apresentado, ok! Eu até perdoo porque disso você não tem culpa, mas não justifica montar um circo só porque eu aceitei um convite que você me faz há 5 meses. E, por favor, na próxima vez que você resolver fingir que é macho use uma dessas desculpas esfarrapadas. Assim, pelo menos, você garante a fama de canalha. É bem melhor do que a de broxa!

Desculpa, quebrei o salto. Mas, sinceramente, eu mereço. É claro que eu preciso de alguma coisa para me irritar e causar algumas rugas. Não posso ser essa pessoa satisfeita o tempo inteiro, feliz com a família sempre presente, com os grandes (e melhores) amigos, exercendo a profissão que ama, morando no lugar que escolheu, independente, comendo e dormindo a hora que dá vontade e ainda tendo a audácia de usar uma bolsa Prada. Tá, eu não uso uma bolsa Prada. Não original.

Obviamente, minha vida sentimental tinha que ser uma comédia, aliás, uma comédia pastelão. Se não fosse assim, qual seria o drama em achar graça nas loucuras do dia-a-dia?


 
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