terça-feira, 12 de maio de 2009

Mode off


Dizia ela que não tinha do que se queixar. Mas, por mais estranho que fosse, vivia numa profunda insatisfação. O que, afinal, a incomodava tanto ela não sabia explicar, e sendo assim, não tinha a menor ideia do que fazer para calar sua angustia.

Então, decidiu por um dia, fazer tudo o que não faria. Imaginava quantas coisas poderia descobrir apenas testando novas possibilidades. Ficaria exausta só de pensar. Queria mudar o mundo, apenas mudando a forma de enxergá-lo.

Começou desistindo da dieta. E daí se ganhasse alguns quilos? Isso a faria voltar para a academia. Fazia tempo que não praticava exercícios físicos, então, talvez perder a forma não fosse assim tão ruim. Ficava imaginando uma rotina exaustiva em que ela, logo após sair do trabalho, corria para não perder o horário da ginástica. Se lembrou que detestava ginástica, e pensou: ótimo! Seria obrigada a conhecer uma outra modalidade.

Sua primeira iniciativa já dera uma grande perspectiva do que poderia se transformar a sua vida. Isso fez com que se empolgasse ainda mais. Voltou-se para o quarto. Enquanto revirava seu guarda-roupa procurando algo que não vestia há séculos, deu uma rápida espiada no espelho. Tentou recordar quando fora a última vez que experimentara um novo corte de cabelo e, antes que pudesse se dar conta, já estava no salão, aguardando impacientemente por sua vez.

Ao chegar em casa, achou que deveria sair. E não saiu. Resolveu fazer um bolo. Nossa, há quanto tempo não utilizava um forno e, agora, veja só, chegou a queimar a língua ao provar uma fatia do bolo que não era sua especialidade.

Ficou orgulhosa por ainda saber bater umas claras em neve. Se preocupava tanto com o trabalho que não perdia muito tempo com os afazeres domésticos. Lembrou que havia algumas roupas sujas que deveria lavar, mas antes que pudesse resmungar, obrigou-se a continuar deitada no sofá. Veria um filme.

Não estava acostumada a deixar as coisas acontecerem. Sempre controlava tudo, desde a hora em que acordava até, novamente, a hora em que voltava para a cama. Às vezes, se achava um tanto meticulosa, nem por isso ela se permitia relaxar. Ficava louca só de pensar que algo poderia acontecer, algo que ela realmente não tivesse esperando. Achava que o motivo de haver tantas pessoas frustradas era porque elas simplesmente criavam expectativas demais.

Só que aquele dia era especial. Se permitiu abrir espaço para o casual e estava confortável naquela situação. Jamais imaginou que houvesse tanto prazer em não ter uma rotina. Enquanto tentava não dormir assistindo ao filme, ouviu seu telefone tocar. Não atendeu. Era o que faria, então, pensou o quanto maravilhoso deveria ser receber uma ligação quando não se espera. Talvez, seja alguém apenas tentando tirá-la do seu sossego. Não atenda!, pensou ela. Dormiu.

Algumas horas depois, viu uma chamada perdida. Era um convite para um noite entre amigos. Já estava se preparando para voltar a cama, mas resolveu ir. Diferente das outras vezes, não fez nenhuma grande produção. Queria apenas sair despretensiosamente. E foi. Já estava ali há pouco mais de 1 hora quando recebeu outra ligação, outro convite, outro ensaio do acaso.

Não demorou muito para se despedir e saiu correndo para não deixar seus amigos esperando. Não estava vestida para a ocasião, mas quem se importava? Entrou. E sem ao menos pensar, olhou para trás. Era a vez do acaso brincar com ela.

De repente, ela compreendeu que tudo sempre estará ao seu alcance. Basta estar distraído o suficiente para não tentar controlar suas escolhas. Por ora, ela não precisava aprender mais nada. Virou-se e voltou a dançar.


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