Assistindo a novela de Manuel Carlos, Viver a Vida, eu fico imaginando se é possível existir uma mulher com tanta sorte quanto a Helena. Mulher forte, segura, bem-sucedida, que se apaixona por um homem milionário, lindo, gentil, inteligente e, sem quaisquer dificuldades, ela o conquista, casa e vai passar a Lua de Mel em Paris.
É ou não é o Conto de Fadas da vida moderna?
Tudo tão simples que, sinceramente, me senti vivendo em um mundo paralelo. E vindo de mim, isso pode parecer um pouco cínico, afinal, eu sempre fui muito amada, sempre tive boa vida, conquistei uma carreira, tenho sim problemas como qualquer mortal, mas supero todos eles usando um salto 15cm, sorry. O que eu quero dizer é que se para mim aquele mundo encantado vivido por todas as "Helenas" de Manuel Carlos parece algo surreal, imagina para os mais de 170 milhões de brasileiros que vivem com um salário mínimo?
As verdadeiras Helenas: uma vida regrada a muito trabalho,
sofrimento e o sustento da família com 1 salário mínimo/mês.
Eu até entendo o fascínio que as novelas exercem nos telespectadores pelo seu caráter lúdico, afinal, estamos falando de entretenimento. Mas, a cena em que a Luciana, filha do Galã, recebe como presente de aniversário um anel de R$45.000 só porque estava meio brigada com o pai foi um insulto a mais da metade da população brasileira que se enquadra na condição de Classe Média. Gente, estou falando de uma novela em que o núcleo “pobre” reside em Búzios!
Adoro novelas. Assisto sempre que posso, gosto de discutí-las, torço pelos personagens, sofro com seus dilemas e sempre me decepciono com os finais nada surpreendentes (fato!), e por esses motivos posso dizer que “Viver a Vida” tem a audiência digna de uma verba milionária, mas o seu conteúdo parece ter sido retirado de um desses romances vendidos em banca de rodoviária.
Contexto pobre, diálogos fúteis e uma sessão de capítulos que nada acrescentam à trama, passando a quilômetros de distância do objetivo principal que, ao meu entender, deveria mostrar às pessoas que é possível ser feliz e viver intensamente se houver coragem para superar suas limitações.
Desculpe, Manuel Carlos, eu sou apenas uma cidadã que como milhares de outras doam 1 hora de suas vidas para ficar em frente a televisão, na tentativa desesperada de encontrar uma programação de qualidade, e o mínimo que o senhor poderia fazer por nós é nos agraciar com uma história envolvente, sim, mas que não subestime tanto a nossa inteligência.
Enquanto isso não acontece, eu irei preferir a companhia de um bom livro.